Holanda abre arquivos históricos que revelam colaborações com os nazistas

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Após décadas de sigilo, a Holanda abrirá ao público um extenso arquivo com informações sobre mais de 425 mil pessoas acusadas de colaborar com os nazistas durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Esses documentos, mantidos por 80 anos nos arquivos de Haia, estarão acessíveis a partir de 2 de janeiro, marcando um momento histórico para o país.

Os registros pertencem aos tribunais de jurisdição especial criados após a libertação da Holanda e incluem detalhes como relatos de testemunhas, cartões de filiação ao partido fascista, sentenças judiciais e pedidos de perdão. Até agora, apenas pesquisadores, envolvidos diretos e descendentes tinham acesso a esse material.

A abertura desses arquivos está sendo recebida com sentimentos mistos. Algumas famílias temem as repercussões sociais e emocionais que podem surgir, enquanto outras veem na transparência uma oportunidade para confrontar e compreender melhor o passado.

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“É desconfortável imaginar o que pode vir à tona”, afirmou Connie, de 74 anos, que tem registros familiares no arquivo. Já sua irmã Mieke, de 68 anos, expressou ansiedade para descobrir mais sobre o envolvimento de seu avô, que trabalhou para os nazistas durante a guerra.

Historiadores e especialistas, no entanto, consideram a medida essencial. Martijn Eickhoff, diretor do Instituto NIOD para Estudos de Guerra, Holocausto e Genocídio, destacou que analisar documentos históricos pode ajudar a entender as complexidades do período. “Esses registros são impactantes porque lidam com histórias pessoais. Mas é um passo necessário para enfrentar a verdade”, afirmou.

Durante a ocupação nazista, a Holanda foi palco de uma das maiores perdas da população judaica na Europa, com mais de 102 mil vítimas. Nos últimos anos, o país vem reconhecendo sua história com mais profundidade, incluindo pedidos públicos de desculpas e a inauguração de um museu nacional do Holocausto.

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A decisão de abrir os arquivos também reflete o esforço contínuo para lançar luz sobre as colaborações, que variaram de delações a contribuições econômicas e burocráticas. Johannes Houwink ten Cate, professor emérito de estudos do Holocausto, considera o momento crucial. “Tornar esses documentos públicos é uma forma de enfrentar o passado. É doloroso, mas necessário.”

Embora a digitalização completa dos registros tenha sido descartada por preocupações com privacidade, milhões de páginas devem ser gradualmente disponibilizadas. O governo assegura que esses documentos não estarão acessíveis por mecanismos de busca, protegendo informações sensíveis.

A abertura dos arquivos não apenas ilumina um capítulo sombrio da história holandesa, mas também promove o debate sobre como as nações lidam com seus passados complexos.

 

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