Durante uma caminhada em uma floresta da Suíça, uma dupla de artistas que trabalha com organismos bioluminescentes encontrou um cogumelo que brilhava intensamente em tom verde. A princípio, pensaram que fosse uma espécie já conhecida, mas o achado acabou revelando algo inédito para a ciência: a capacidade de emitir luz própria do Mycena crocata, popularmente chamado de cogumelo-açafrão.
Os artistas coletaram o cogumelo e o levaram ao estúdio para fotografias e medições. O que descobriram surpreendeu até especialistas. Embora o Mycena crocata já fosse catalogado, sua bioluminescência nunca havia sido documentada. A novidade foi oficialmente reconhecida e publicada em maio de 2024 no periódico Mycoscience, sendo divulgada ao público apenas em janeiro deste ano pelo Instituto Federal Suíço de Pesquisa Florestal, de Neve e de Paisagem (WSL).
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A pesquisadora Renate Heinzelmann, micologista do WSL, destacou o papel crucial dos artistas no processo: “Eles coletaram as amostras, realizaram os experimentos e registraram os resultados. A bioluminescência é pouco explorada, e essa descoberta reforça que há muito mais para ser encontrado”.
O estudo revelou que a bioluminescência do Mycena crocata é mais evidente no micélio — estrutura subterrânea semelhante a raízes — e na madeira em decomposição onde o fungo cresce. O corpo de frutificação, ou seja, a parte visível do cogumelo, não apresenta o mesmo brilho.
Embora a função ecológica da bioluminescência ainda seja incerta, pesquisadores sugerem que ela possa atrair insetos que auxiliam na dispersão dos esporos, desempenhando um papel essencial no ciclo de vida da espécie.
Atualmente, pouco mais de 100 espécies de cogumelos bioluminescentes são conhecidas, sendo a maioria encontrada em áreas tropicais. A Mata Atlântica brasileira, por exemplo, abriga 27 das 29 espécies registradas no país, de acordo com o Instituto de Pesquisas da Biodiversidade (IPBio).
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A descoberta do Mycena crocata reforça que essas características não estão restritas às florestas tropicais. “Queremos mostrar que cogumelos bioluminescentes também existem nas florestas suíças. Não é preciso viajar muito para encontrar essas maravilhas naturais”, afirmou Heidy Baggenstos, um dos artistas responsáveis pelo achado.
Essa revelação, além de ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade, reforça a importância da colaboração entre ciência e arte na busca por compreender os mistérios da natureza.
