Na França medieval, um galgo chamado Guinefort conquistou a devoção popular e se tornou símbolo de proteção infantil, mesmo sem o reconhecimento da Igreja Católica. Sua história atravessou séculos e resistiu às tentativas de erradicação, consolidando-se como uma das lendas mais curiosas do cristianismo.
De acordo com a tradição, Guinefort pertencia a um cavaleiro que vivia próximo a Lyon. Em um dia fatídico, ao retornar de uma caçada, o cavaleiro encontrou o berço de seu filho revirado e o cão coberto de sangue. Convencido de que o animal havia atacado a criança, o homem matou o galgo. Pouco depois, descobriu que o cachorro, na verdade, havia protegido o bebê ao matar uma cobra venenosa.
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Tomado pelo remorso, o cavaleiro enterrou Guinefort com honras e, ao longo dos anos, o local se transformou em um santuário onde mães levavam seus filhos para receber bênçãos e curas. A devoção cresceu a ponto de estabelecer um dia de celebração, consolidando a imagem do galgo como um santo protetor das crianças.
A popularidade do culto, no entanto, despertou a ira da Igreja Católica. No século XIII, o inquisidor Esteban de Bourbon condenou a veneração de Guinefort como heresia e ordenou a destruição do santuário. Apesar disso, a devoção ao “cão santo” persistiu por gerações, alimentada pelo imaginário popular e registrada pelo próprio inquisidor em seus escritos.
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Com o tempo, a história de Guinefort perdeu força, mas nunca desapareceu. O galgo que desafiou a autoridade da Igreja continua sendo lembrado, inspirando obras e levantando debates sobre a fé, as tradições populares e o papel dos animais na espiritualidade humana.