Uma nova análise de amostras lunares trouxe à tona um dado surpreendente: o lado oculto da Lua, aquele que nunca pode ser visto da Terra, é consideravelmente mais seco do que o lado visível. A descoberta, feita a partir de fragmentos recolhidos pela missão chinesa Chang’e-6, pode alterar o entendimento atual sobre a origem e evolução do nosso satélite natural.
A pesquisa, publicada pela revista Nature, detalha os resultados obtidos a partir da coleta inédita realizada na Bacia Aitken-Polo Sul, uma das regiões mais antigas e pouco exploradas do hemisfério lunar oculto. Foram analisadas 5 gramas de material, divididas em centenas de micropartículas. O teor de água encontrado nos fragmentos basálticos do lado afastado da Lua foi inferior a 2 microgramas por grama – o menor nível já identificado até hoje.
Esse número contrasta com análises anteriores de amostras vindas do lado visível, que indicavam concentrações bem maiores, com registros de até 200 microgramas por grama. “Os dados mostram que o manto do lado afastado é ainda mais seco do que o lado próximo, o que surpreende e levanta novas perguntas sobre a formação da Lua”, afirmou Hu Sen, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências.
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A presença de água no interior da Lua tem sido tema de debate intenso entre cientistas nos últimos anos. Embora a teoria mais aceita seja de que o satélite se formou a partir da colisão de um corpo celeste com a Terra há cerca de 4,5 bilhões de anos — o que teria causado uma perda significativa de elementos voláteis —, estudos recentes indicavam que ainda restaria certa umidade retida nas camadas internas.
Até agora, porém, todas essas estimativas eram baseadas exclusivamente em amostras coletadas no lado visível. A Chang’e-6 foi a primeira missão da história a trazer materiais do outro hemisfério. “Estamos investigando a água do interior lunar, que pode revelar informações fundamentais sobre a origem e a transformação do corpo celeste”, completou Hu.
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A missão retornou à Terra em junho de 2024 com quase dois quilos de amostras, sendo considerada um marco na exploração lunar. Com base nos resultados iniciais, a China já planeja uma nova etapa com a missão Chang’e-7, que deve se concentrar na busca por sinais de água na superfície da Lua.
A descoberta reforça o papel estratégico da exploração lunar para além da corrida espacial: ela pode fornecer pistas valiosas sobre o passado do sistema solar e, eventualmente, sobre as condições para a instalação de bases permanentes no satélite.