Na nova temporada de Black Mirror, lançada recentemente na Netflix, o episódio Eulogy surpreende não apenas pelo enredo emocional, mas também pela origem inusitada de sua inspiração. Segundo o criador da série, Charlie Brooker, e a roteirista Ella Road, a trama foi concebida após ambos assistirem ao documentário The Beatles: Get Back, lançado em 2021.
O episódio acompanha Phillip, personagem vivido por Paul Giamatti, um homem solitário que é convocado a preparar uma homenagem póstuma para Carol, sua ex-namorada. Para isso, ele recebe um dispositivo tecnológico capaz de transformar imagens antigas em experiências imersivas — recurso que o leva a revisitar lembranças que, até então, havia distorcido em sua mente. À medida que revive esses momentos, Phillip se depara com nuances emocionais que havia ignorado, reconstruindo sua visão sobre Carol e, de forma inesperada, reavivando sentimentos por ela.
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“Essa era a narrativa dele, que ela era apenas uma pessoa terrível com ele”, explicou Brooker em entrevista ao Tudum, da Netflix. “Ele tem uma nova visão sobre o que ela estava passando, algo que ele não se permitiu ver [na época]. Como consequência disso, ele se apaixona por ela novamente no final, o que é agridoce porque ela se foi”.
A conexão com os Beatles se dá pela forma como o documentário restaurou imagens e áudios da banda com o uso de inteligência artificial. A tecnologia permitiu que vocais de John Lennon fossem isolados e que cenas raras dos bastidores ganhassem nitidez e profundidade. Esse processo de resgatar o passado com clareza inspirou a construção do episódio, que também propõe uma viagem afetiva e reveladora por meio de arquivos visuais.
Assim como Get Back permitiu que o público enxergasse os Beatles com novos olhos, Eulogy desafia o protagonista — e os espectadores — a repensarem o que consideram verdade nas memórias. Uma reflexão potente sobre o que fica depois da perda, alimentada pela tecnologia, mas profundamente humana.