O Uruguai e a América Latina se despedem de uma de suas personalidades políticas mais emblemáticas. José “Pepe” Mujica, ex-presidente uruguaio e símbolo da resistência contra a ditadura militar, morreu nesta terça-feira, 13 de maio, aos 89 anos, após enfrentar um câncer de esôfago que, nos últimos meses, já havia se espalhado pelo fígado.
Conhecido por sua franqueza e estilo de vida austero, Mujica havia revelado em janeiro deste ano que seu estado de saúde era irreversível. “O câncer está avançando. Não há mais o que fazer… Peço apenas paz. Meu tempo chegou”, declarou em um de seus últimos pronunciamentos públicos.
A confirmação de que o quadro era terminal foi feita pela esposa e companheira de militância, Lucía Topolansky, em entrevista recente ao jornal La Diaria. Segundo ela, os cuidados paliativos haviam sido iniciados e a família tentava garantir que os últimos dias do ex-presidente ocorressem da forma mais digna e tranquila possível. “Foi um final anunciado. Prometi estar com ele até o fim, e estou cumprindo isso”, disse.
++ Novo método com uso de urânio é desenvolvido para energia nuclear
Além do câncer, Mujica convivia há mais de 20 anos com uma doença autoimune que afetava os rins, fator que dificultou ainda mais seu tratamento nos últimos tempos.
Mujica governou o Uruguai entre 2010 e 2015 e ficou marcado por sua atuação direta, discursos humanistas e uma maneira de viver que contrastava com os padrões políticos tradicionais. Recusava luxos, morava em uma pequena chácara na zona rural de Montevidéu e doava boa parte do seu salário enquanto presidente. Mesmo após deixar a Presidência e o Senado — cargo que ocupou até 2020 —, continuou participando de discussões sobre política e democracia no continente.
++ Inocente passa quase 40 anos preso por erro da Justiça e é libertado após novas provas de DNA
Sua trajetória inclui mais do que cargos públicos: Mujica foi integrante do grupo guerrilheiro Tupamaros e passou quase 15 anos preso durante a ditadura uruguaia, parte deles em solitárias. Da prisão à presidência, sua história é vista como símbolo de resistência, coerência e compromisso com ideais de justiça social.
Para muitos, Mujica deixa um ensinamento maior do que qualquer decisão de governo: a ideia de que é possível fazer política sem se afastar da humanidade. Como ele costumava dizer, “a vida é uma aventura maravilhosa”, e sua herança será lembrada por gerações.