O tubarão-da-Groenlândia é uma criatura intrigante que desafia as convenções da longevidade animal. Com uma aparência que pode causar estranhamento, marcada por pele áspera e nadadeiras atrofiadas, essa espécie vive nas profundezas do Atlântico Norte e Ártico. No entanto, o que realmente impressiona é sua capacidade de viver cerca de 400 anos.
Para descobrir o segredo dessa longevidade, cientistas da Europa e dos Estados Unidos mapearam o genoma do tubarão. No estudo publicado no bioRxiv, os pesquisadores descobriram que o tubarão-da-Groenlândia possui um genoma gigantesco. Ele contém cerca de 6,5 bilhões de pares de bases de DNA, o maior entre os tubarões sequenciados. Além disso, mais de dois terços desse genoma são compostos por genes repetidos, conhecidos como elementos transponíveis.
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Esses genes saltadores são considerados parasitas genômicos. Eles se replicam e podem causar mutações. Contudo, os tubarões-da-Groenlândia podem ter evoluído uma maneira única de usar esses genes a seu favor, pois eles aproveitam a maquinaria dos genes saltadores para duplicar genes importantes para a reparação do DNA.
Em 2016, um estudo usou datação por radiocarbono e estimou que esses tubarões podem viver 400 anos. Além disso, eles atingem a maturidade sexual apenas aos 150 anos. Desde então, pesquisadores têm estudado os tubarões-da-Groenlândia em diversas áreas. Por exemplo, alguns investigam o coração, enquanto outros focam no metabolismo. O foco principal, porém, tem sido o genoma.
Como a pesquisa foi realizada
A equipe de Steve Hoffmann, biólogo computacional do Instituto Leibniz de Envelhecimento e da Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha, que liderou a pesquisa, foi a primeira a sequenciar quase 92% do DNA do tubarão. Esse avanço exigiu trabalho de campo extenso, já que eles capturaram tubarões e retiraram amostras de tecido. O DNA foi, então, comparado com o de outros tubarões, revelando uma rede de 81 genes exclusivos que ajudam na reparação do DNA.
Um gene crucial identificado foi o TP53. Esse gene é conhecido por sua função na reparação do DNA e na supressão de tumores. Sua alteração nos tubarões-da-Groenlândia pode ter impacto em sua longevidade, mas ainda é uma hipótese em teste.
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Os pesquisadores, portanto, pretendem explorar mais. Eles querem sequenciar o genoma de tubarões com menor longevidade, mas que são evolutivamente semelhantes. Isso pode ajudar a entender como os tubarões-da-Groenlândia vivem tanto tempo.
Por fim, este é um momento empolgante para a pesquisa. Agora que o genoma está sequenciado, os cientistas podem desenvolver e testar novas hipóteses. O estudo do tubarão-da-Groenlândia pode abrir portas para terapias contra o câncer e outras descobertas valiosas para a saúde humana.