Depois de quase duas décadas vivendo sem as mãos, o croata Luka Krizanac, de 29 anos, está redescobrindo o prazer de realizar tarefas simples, como preparar um café ou digitar no celular. Em uma cirurgia de alto risco realizada no final de 2024, nos Estados Unidos, ele se tornou um dos poucos pacientes no mundo a receber um transplante duplo de mãos.
O procedimento foi conduzido no hospital Penn Medicine, na Filadélfia, e mobilizou uma equipe de mais de 20 profissionais ao longo de 12 horas. Até meados de 2023, apenas 148 transplantes de mãos haviam sido feitos globalmente, e uma parcela ainda menor envolvia o transplante bilateral.
Superação de uma infância marcada pela perda
Aos 12 anos, Luka sofreu uma sepse grave que resultou na amputação de parte dos braços e das pernas. Desde então, conviveu com limitações físicas e uma longa jornada em busca de uma solução definitiva. O sonho do transplante foi adiado por diversos motivos: desde a falta de cobertura por seguros de saúde até complicações médicas adicionais, incluindo cirurgias nas pernas e os efeitos da pandemia de Covid-19.
Em 2018, ao conhecer o cirurgião L. Scott Levin, referência mundial em transplantes de mãos, Krizanac deu um passo importante rumo à mudança de vida. Levin destacou que o jovem era um candidato ideal: determinado, bem informado e com um sólido apoio familiar.
++ Greve no Louvre escancara crise no maior museu do mundo: superlotação e infraestrutura precária
Uma nova chance
Depois de anos de espera e múltiplos ensaios cirúrgicos, a equipe finalmente recebeu a notícia da existência de um doador compatível no fim de 2024. A operação exigiu um trabalho complexo de reconexão de ossos, músculos, nervos e vasos sanguíneos.
O resultado superou as expectativas. Segundo Levin, o processo de recuperação neural de Krizanac tem sido um dos mais rápidos que já presenciou.
Em entrevista à CNN, o paciente relatou o momento em que percebeu que estava voltando a sentir sensações nas mãos. “Estava lavando as mãos e, de repente, senti a água fria. Foi instintivo puxá-las de volta. Ali caiu a ficha de que eu estava, de fato, sentindo novamente.”
++ Polícia resgata 88 crianças de acampamento religioso nos EUA em investigação de tráfico humano
Fisioterapia e novos planos
A rotina de Luka agora inclui sessões intensas de fisioterapia e o uso contínuo de medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição dos novos membros.
Para o cirurgião, o sucesso do caso de Krizanac reforça a importância de que esse tipo de transplante receba mais apoio das seguradoras de saúde e das autoridades médicas. “Tratar isso como um luxo e não como uma necessidade médica seria um erro”, afirmou Levin.
Já para Luka, o foco é um só: voltar a ter uma vida comum. “Tenho duas mãos saudáveis agora. Sei que é só uma questão de esforço e tempo até eu alcançar a autonomia total”, disse.