Escondido nas profundezas do Oceano Atlântico, um campo hidrotermal chamado de Cidade Perdida intriga cientistas do mundo inteiro. Isolado a cerca de 700 metros da superfície, esse ecossistema submarino pode revelar como a vida começou na Terra — mas agora corre risco com o avanço da mineração oceânica.
Formado há mais de 120 mil anos, o campo está localizado numa encosta da Dorsal Mesoatlântica, região onde placas tectônicas se encontram e onde o planeta exibe parte de sua atividade geológica mais intensa. Ali, colunas minerais — algumas com quase 60 metros de altura — se erguem do leito marinho como verdadeiras torres de uma cidade submersa.
Essas estruturas são fruto da serpentinização, um processo químico no qual a água do mar penetra rochas profundas do manto terrestre e libera gases como hidrogênio e metano. É esse ambiente extremo, sem luz solar e com temperaturas que podem atingir 90 ºC, que sustenta formas de vida únicas, como microrganismos que sobrevivem apenas desses gases.
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A Cidade Perdida abriga também organismos raros: camarões, ouriços-do-mar e caracóis que se fixam nas chaminés minerais e se adaptam às condições severas. Os cientistas acreditam que os processos químicos observados ali se assemelham aos que podem ter ocorrido bilhões de anos atrás, quando os primeiros compostos orgânicos surgiram da interação entre rochas, água e energia.
Por isso, o local se tornou um dos mais importantes laboratórios naturais do mundo — uma janela viva para o passado remoto do planeta. E não só isso: pesquisadores como o microbiologista William Brazelton apontam que ambientes semelhantes podem existir em outros corpos celestes, como as luas Encélado e Europa, que abrigam oceanos sob gelo.
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Apesar da importância científica, a Cidade Perdida está ameaçada. Em 2017, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) autorizou a Polônia a explorar uma área próxima ao campo hidrotermal, visando a extração de minerais. Embora o local exato da Cidade Perdida não contenha reservas comerciais, a atividade nos arredores pode liberar sedimentos e poluentes, afetando ecossistemas frágeis que talvez jamais se recuperem.
Atualmente, o campo é reconhecido pela Convenção sobre Diversidade Biológica como uma Área Marinha Ecológica ou Biologicamente Significativa, e há um movimento para que a UNESCO o declare Patrimônio Mundial da Humanidade.
A urgência é real: para os cientistas, proteger a Cidade Perdida é preservar não só um patrimônio natural, mas uma peça-chave no quebra-cabeça sobre as origens da vida na Terra — e, possivelmente, fora dela também.