A Coreia do Norte deu mais um passo em sua tentativa de se inserir no mercado internacional de turismo — ainda que de forma bastante controlada. Em 24 de junho, o líder Kim Jong-un inaugurou oficialmente o resort costeiro de Wonsan-Kalma, um ambicioso complexo à beira-mar projetado para abrigar até 20 mil hóspedes, embora boa parte de suas instalações permaneça envolta em sigilo.
De acordo com a agência estatal KCNA, o resort conta com hotéis modernos, áreas para banho de sol, práticas esportivas, atrações culturais e diversas opções gastronômicas. Entre os espaços confirmados estão os hotéis Kalma Moranbong e Myongsasimni, além de um parque aquático homônimo. No entanto, os detalhes sobre o funcionamento interno, os preços e o acesso para estrangeiros ainda não foram divulgados.
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Estratégia de “turismo socialista”
Durante a inauguração, Kim afirmou que o novo resort representa o “primeiro passo” em uma política mais ampla de incentivo ao “turismo cultural”. Segundo ele, o objetivo é transformar outras regiões do país em destinos turísticos, aproveitando as lições obtidas na construção de Wonsan-Kalma.
Especialistas acreditam que, num primeiro momento, o público-alvo do empreendimento será composto pela elite política e militar da capital, Pyongyang. Para Lim Eul-chul, professor de estudos norte-coreanos da Universidade Kyungnam, o projeto é tanto uma vitrine para a chamada “civilização socialista” quanto uma tentativa de dinamizar a economia com base no setor turístico — ainda que controlado.
Abertura para estrangeiros ainda é limitada
Apesar das ambições internacionais, o país ainda não anunciou uma data oficial para receber turistas estrangeiros de forma ampla. Por ora, apenas alguns grupos da Rússia e da China têm acesso, refletindo a proximidade diplomática entre os países. O embaixador russo e diplomatas do país foram convidados especiais da cerimônia de inauguração.
A agência de viagens russa Vostok Intur, com sede em Vladivostok, já está promovendo pacotes turísticos com destino a Wonsan-Kalma. O primeiro tour começa em 7 de julho, com duração de oito dias e paradas em Wonsan e no Masikryong Ski Resort — outro projeto turístico norte-coreano, inaugurado em 2013. Os preços giram em torno de US$ 1.840 (cerca de R$ 10 mil).
Turismo sob vigilância
Historicamente, o turismo na Coreia do Norte é altamente restrito e monitorado pelo governo. Antes da pandemia, o país recebia cerca de 5 mil turistas ocidentais por ano, 20% deles norte-americanos — até que os EUA proibiram viagens após o caso de Otto Warmbier, estudante preso e morto após visita ao país.
Durante a pandemia de COVID-19, o país fechou totalmente suas fronteiras, reabrindo-as somente em meados de 2023. Desde então, russos e chineses voltaram a visitar o território norte-coreano, com a China respondendo pela maioria do turismo internacional atual.
O novo resort é, portanto, um símbolo do paradoxo norte-coreano: grandes ambições de modernização e desenvolvimento turístico, mas sempre sob o olhar rígido de um regime que continua a controlar cada passo — inclusive os dados sobre o próprio resort que acaba de inaugurar.