Depois de 55 anos sob os cuidados da editora independente Ediciones de la Flor, a personagem Mafalda, símbolo da crítica social e da inteligência infantil na América Latina, inicia um novo ciclo editorial. A partir de agosto, as tirinhas da menina criada por Quino passarão a ser publicadas na América do Sul pelo grupo Penguin Random House.
A mudança marca o fim de uma das parcerias mais duradouras da literatura gráfica em língua espanhola. A decisão partiu dos herdeiros do cartunista Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, falecido em 2020. Segundo eles, o novo contrato busca ampliar a distribuição internacional da obra, algo que a editora argentina vinha enfrentando dificuldades para manter.
A Penguin Random House já publicava trabalhos de Quino em países como Espanha e México. Agora, a Sudamericana, braço do grupo na Argentina, assume a edição local de Mafalda — personagem que transcendeu gerações com seu humor mordaz e suas reflexões sobre política, sociedade e humanidade.
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A notícia foi recebida com tristeza pela Ediciones de la Flor. Em nota oficial, a editora lamentou a decisão dos herdeiros, mas afirmou que o vínculo com Mafalda permanecerá na história: “Cuidamos dessa obra com dedicação e carinho por mais de meio século. Temos certeza de que nossos nomes seguirão entrelaçados na memória cultural”.
Ana María “Kuki” Miler, diretora da editora e viúva de Daniel Divinsky, que fundou a De la Flor com Quino, declarou ao El País que a decisão reflete também as dificuldades econômicas da Argentina. Ela citou, por exemplo, o aumento nos custos editoriais, que elevou o preço de livros no país a patamares inviáveis para muitos leitores: “Um volume de Mafalda custa hoje cerca de 90 mil pesos, o equivalente a 80 dólares, enquanto no exterior sempre foi vendido por cerca de 50 dólares”.
Para Miler, se Quino ainda estivesse vivo, a mudança provavelmente não teria acontecido. “Ele sempre foi leal à nossa relação. Não tomaria uma decisão como essa pautada apenas pelo mercado”, disse.
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Mafalda foi publicada pela primeira vez em 1964, e mesmo após o encerramento das tirinhas em 1973, seu impacto cultural só aumentou. Traduzida em dezenas de idiomas, a personagem rendeu ao autor o Prêmio Príncipe de Astúrias em 2014. Segundo o júri, Quino combinava “simplicidade de traço com profundidade de pensamento” — uma síntese que manteve a atualidade de sua crítica por décadas.
Com a mudança de editora, Mafalda inicia um novo capítulo editorial. Mas o legado construído pela parceria com a Ediciones de la Flor permanecerá como parte inseparável da trajetória de uma das personagens mais influentes da cultura latino-americana.