Pesquisadores da Universidade de Tulane (EUA) identificaram que os anolis-marrons (Anolis sagrei), uma espécie de lagarto invasora em Nova Orleans, possuem os maiores níveis de chumbo no sangue já registrados em vertebrados. Apesar disso, não apresentam sinais de envenenamento, mesmo com concentrações que seriam fatais para a maioria dos animais.
Enquanto em humanos valores acima de 5 µg/dL já representam risco para adultos e 3,5 µg/dL para crianças podem causar danos graves, os lagartos estudados apresentaram média de 955 µg/dL e casos que chegaram a 3.192 µg/dL.
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Por que resistem?
Segundo o pesquisador Alex Gunderson, coautor do estudo publicado na Environmental Research, a exposição está ligada à ecologia urbana da cidade, marcada pelo uso histórico de gasolina e tintas à base de chumbo. Os lagartos respiram poeira contaminada e se alimentam de insetos que acumulam o metal.
Mesmo assim, análises mostraram que suas funções fisiológicas permanecem preservadas. Alterações genéticas em tecidos cerebrais e hepáticos sugerem adaptações ligadas ao transporte de oxigênio e ao controle de íons metálicos, o que explicaria a tolerância ao chumbo.
“Esses lagartos não estão apenas sobrevivendo, estão prosperando com uma carga de chumbo que seria catastrófica para outros animais”, afirmou Gunderson.
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Impacto ambiental
Originária do Caribe, a espécie chegou à Louisiana nos anos 1990 e hoje supera em número o anolis-verde, nativo da região.
Os pesquisadores reforçam que, embora a resistência desses lagartos seja impressionante, o achado não deve ser interpretado como um caminho imediato para terapias contra intoxicação em humanos. Para a cientista Annelise Blanchette, o estudo serve como alerta sobre os impactos da contaminação por chumbo em ecossistemas urbanos e naturais.
“O legado de poluentes como o chumbo não afeta apenas a fauna, mas também pode ter reflexos indiretos sobre a saúde humana”, concluiu.