Um consórcio internacional de neurocientistas produziu o primeiro mapa abrangente da atividade cerebral de um mamífero, trazendo novas respostas sobre como o cérebro toma decisões. O estudo, publicado na revista Nature, analisou mais de 600 mil células de 139 camundongos e revelou que a tomada de decisão não se limita a áreas específicas, mas mobiliza uma rede muito mais ampla de regiões cerebrais.
O trabalho foi conduzido pelo International Brain Laboratory (IBL), que reúne 12 laboratórios da Europa e dos Estados Unidos. A iniciativa surgiu da percepção de que estudos anteriores eram fragmentados, dificultando a comparação de resultados. “Não sabíamos se realmente concordávamos ou discordávamos, pois tantos fatores eram distintos”, explicou Matteo Carandini, neurocientista da University College London e membro do projeto.
++ Canetas emagrecedoras podem causar efeitos positivos na saúde do coração
Para superar essa limitação, a equipe padronizou experimentos e usou sondas Neuropixels, capazes de registrar até mil neurônios ao mesmo tempo. Nos testes, camundongos precisavam girar uma roda na direção de estímulos visuais sutis em troca de recompensas. O esperado era que apenas áreas como o córtex visual e o pré-frontal centralizassem a atividade decisória.
Os resultados, porém, mostraram algo mais complexo: sinais relacionados às escolhas e às expectativas passadas surgiram em praticamente todas as regiões estudadas. Isso indica que o cérebro distribui o processo de decisão em uma rede ampla, e não em uma sequência linear de etapas.
++ Estudo da NASA calcula chance de alienígenas detectarem sinais da Terra
Segundo Carandini, a descoberta pode ser comparada à evolução da astronomia: antes do telescópio, os cientistas viam apenas pontos de luz; com novas ferramentas, revelaram-se universos inteiros. Ainda assim, os autores lembram que os achados são correlacionais — o próximo desafio será provar a relação de causa e efeito entre a atividade registrada e a decisão tomada.