Um novo estudo internacional acende o alerta para uma possível crise migratória em escala global causada pelo aumento acelerado do nível dos oceanos. De acordo com os cientistas, milhões de pessoas poderão ser forçadas a abandonar áreas costeiras ainda neste século, diante de um cenário que já se aproxima do ponto de não retorno.
A elevação do nível do mar é impulsionada principalmente pelo derretimento acelerado das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida — que, segundo o estudo publicado na revista Communications Earth and Environment, já quadruplicou desde os anos 1990. Esse processo é consequência direta do aquecimento global, que segue em trajetória ascendente.
Atualmente, a média de aumento da temperatura global está em torno de 1,2 °C acima dos níveis pré-industriais. Mesmo que as emissões de gases do efeito estufa fossem drasticamente reduzidas, o nível dos oceanos deve continuar subindo pelo menos 1 centímetro por ano até o fim do século. A previsão é que a meta internacional de limitar o aquecimento a 1,5 °C — considerada o “limite seguro” — não seja mais viável.
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Os pesquisadores afirmam que o mundo caminha para um aumento de temperatura entre 2,5 °C e 2,9 °C, o que colocaria em colapso regiões críticas de gelo na Antártida Ocidental e na Groenlândia. Nesse cenário, o nível do mar poderia subir até 12 metros, afetando duramente países costeiros e insulares.
Atualmente, cerca de 230 milhões de pessoas vivem em áreas com menos de 1 metro de altitude em relação ao mar. Um bilhão de pessoas moram a menos de 10 metros acima do nível oceânico. Se as previsões se confirmarem, cidades inteiras precisarão ser evacuadas, e países em desenvolvimento — como Bangladesh — serão os mais vulneráveis.
“Esse tipo de deslocamento forçado seria sem precedentes na história moderna. Seria uma migração em massa para o interior, extremamente difícil de conter ou organizar”, afirma o professor Jonathan Bamber, da Universidade de Bristol, um dos autores do estudo.
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Para os cientistas, o maior desafio está no ritmo das transformações: mesmo com medidas de mitigação climática, a recuperação das camadas de gelo que já estão em colapso levaria séculos — ou até milênios. “A terra perdida para o mar provavelmente permanecerá submersa por muito tempo, até que uma nova era glacial surja”, explica a professora Andrea Dutton, da Universidade de Wisconsin-Madison.
Os pesquisadores combinaram dados sobre períodos quentes do passado geológico do planeta, modelos climáticos avançados e registros recentes de derretimento de gelo para chegar às projeções. A conclusão é clara: a elevação do nível do mar, se não for contida ou retardada, representa uma ameaça real e duradoura à vida em regiões costeiras de todo o mundo.