Pesquisadores da Universidade de Aarhus (Dinamarca) e da Universidade Chongqing Jiaotong (China) desenvolveram um material inusitado: um cimento capaz de armazenar energia elétrica. A inovação, chamada de “cimento híbrido microbiano”, incorpora a bactéria Shewanella oneidensis em sua composição, explorando suas propriedades eletroativas para criar uma matriz que funciona como sistema de armazenamento redox-ativo.
O estudo, publicado na revista Cell Reports Physical Science, mostrou que as bactérias podem ser inoculadas no cimento ainda fresco, sobrevivendo e interagindo com sua estrutura. Mesmo após a morte dos microrganismos, o material segue funcional, podendo ser reativado por meio da injeção de nutrientes em microcanais presentes na matriz.
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Como funciona
O processo começa com o cultivo das bactérias, que depois são diluídas em água deionizada e misturadas ao cimento Portland e sulfato de sódio — este último atuando como eletrólito. O resultado é uma pasta homogênea que, após a cura, se transforma em blocos de cimento capazes de armazenar até 178,7 Wh/kg de energia, o equivalente a manter 44 lâmpadas de LED acesas por uma hora.
Os testes indicaram que o material resiste a até 10 mil ciclos de carga e descarga, mantendo 85% da capacidade original, além de suportar variações de temperatura entre -15 °C e 33 °C.
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Potencial futuro
Os pesquisadores acreditam que, no futuro, construções inteiras poderão funcionar como grandes baterias urbanas. Um exemplo citado estima que paredes feitas com esse cimento poderiam acumular cerca de 10 kWh — energia suficiente para manter um servidor corporativo em funcionamento por 24 horas.
Apesar do entusiasmo, os cientistas ressaltam que a tecnologia ainda está em estágio experimental e distante da aplicação em larga escala. Para Qi Luo, autor principal do estudo, o potencial é claro: “Estruturas urbanas poderão não apenas abrigar pessoas, mas também armazenar energia limpa, integrando-se ao sistema elétrico das cidades”.