A recente missão lunar chinesa Chang’e-6 trouxe à Terra descobertas fascinantes sobre o lado oculto da Lua, região que até então permanecia pouco explorada. Após cinco meses do retorno do módulo, dois artigos científicos detalhando os resultados da missão foram publicados nas renomadas revistas Science e Nature. Pela primeira vez na história, amostras do lado oculto do satélite foram coletadas e analisadas, revelando informações surpreendentes sobre o passado vulcânico da Lua.
Primeira Coleta do Lado Oculto
O módulo Chang’e-6 trouxe 1,9 kg de solo lunar da bacia do Polo Sul-Aitken, uma das maiores crateras de impacto do sistema solar, formada há cerca de 4 bilhões de anos. Os estudos iniciais, conduzidos por pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências, revelaram que o material contém fragmentos de rocha basáltica datados de 2,8 bilhões de anos. Essa descoberta é significativa porque demonstra que o lado oculto da Lua teve atividade vulcânica em um período considerado recente, comparado às amostras do lado visível, que apresentam idade superior a 3 bilhões de anos.
Um Passado Vulcânico Diferente
A análise das novas amostras trouxe uma surpresa: elas não exibem a típica assinatura de elementos radioativos conhecidos como “Kreep” (potássio, fósforo e terras raras), comumente associados à geração de calor em atividades vulcânicas. Em vez disso, os fragmentos contêm tório, outro elemento radioativo que intriga os cientistas. A ausência de “Kreep” sugere que a atividade vulcânica no lado oculto pode ter seguido processos diferentes dos observados no lado visível, onde os mares – planícies de basalto formadas por antigos fluxos de lava – cobrem 30% da superfície.
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Por outro lado, o lado oculto é caracterizado por uma crosta mais espessa e terrenos mais acidentados, com mares ocupando apenas 2% de sua área. Esses contrastes geológicos reforçam a ideia de que os dois hemisférios da Lua tiveram histórias de formação distintas.
Implicações para o Estudo Lunar
As amostras estudadas indicam que a Lua permaneceu em estado líquido por mais tempo do que se pensava. Essa conclusão desafia teorias anteriores sobre o resfriamento do satélite e levanta novas questões sobre os fatores que sustentaram a atividade vulcânica prolongada. A datação das rochas foi realizada com base no decaimento de isótopos de chumbo, técnica que permite alta precisão, mas que depende de amostras físicas retiradas do local. Para outras áreas da Lua, as idades são estimadas pelo número de crateras – quanto mais antigo o terreno, mais esburacado ele é.
Impactos da Missão e Próximos Passos
Os avanços proporcionados pela missão Chang’e-6 abrem portas para uma compreensão mais aprofundada da história lunar. Os resultados reforçam a necessidade de explorar diretamente o lado oculto, algo que nem as missões Apollo (EUA) nem as Luna (URSS) haviam feito.
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Embora a Administração Espacial Nacional da China (CNSA) mantenha prioridade sobre as amostras, é esperado que, em dois anos, fragmentos do solo lunar sejam compartilhados com pesquisadores de outros países, incluindo os da NASA. Este intercâmbio internacional poderá ampliar ainda mais o entendimento sobre os processos geológicos da Lua e as razões para suas faces tão distintas.