Pesquisadores japoneses desenvolveram uma técnica curiosa e promissora que transforma cigarras em emissores de som controlado, como se fossem pequenos alto-falantes biológicos. A inovação, conduzida por uma equipe da Universidade de Tsukuba, abre caminho para a criação de dispositivos híbridos que podem ter aplicações em comunicação de emergência.
No centro do estudo está o uso de estimulação elétrica muscular (EMS) para ativar o sistema responsável pelos sons emitidos pelas cigarras. Os cientistas implantaram eletrodos em exemplares machos da espécie Graptopsaltria nigrofuscata, comum no Japão, conectando os insetos a circuitos capazes de enviar impulsos elétricos diretamente aos músculos do tímbalo — a estrutura natural que eles usam para emitir seus sons estridentes.
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Com os estímulos, os pesquisadores conseguiram produzir sons de diferentes frequências, controlando as notas musicais com precisão suficiente para executar melodias simples. Uma das demonstrações exibiu trechos da peça clássica “Canon”, de Johann Pachelbel, gerados unicamente a partir dos sons modulados pelas cigarras.
A pesquisa, divulgada na plataforma científica arXiv, detalha ainda que os testes identificaram faixas ideais de voltagem para garantir sons nítidos e estáveis. O controle das frequências variou de tons graves a notas mais agudas, demonstrando a flexibilidade do sistema.
Além do aspecto sonoro, o projeto levanta questões sobre o uso de insetos como plataformas tecnológicas. A escolha das cigarras se deve à sua estrutura corporal favorável à estimulação, já que possuem poucos órgãos próximos à região sonora. Segundo os autores do estudo, os insetos não sofreram lesões e foram liberados após o experimento.
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A proposta dos cientistas vai além da curiosidade. Eles apontam que esses dispositivos híbridos, baseados em organismos vivos, podem ser úteis em situações de desastre, funcionando como alertas sonoros em locais de difícil acesso. Por serem leves, resistentes e com baixa necessidade de energia, as cigarras “modificadas” se apresentam como uma alternativa viável frente aos equipamentos eletrônicos convencionais.
Experimentos com insetos controlados eletricamente não são exatamente novos. Na década de 1990, por exemplo, pesquisadores testaram a aplicação de choques em baratas para guiá-las remotamente, com a intenção de utilizá-las em missões de busca e salvamento. A pesquisa japonesa, no entanto, dá um passo além ao explorar a emissão sonora dos animais como meio de comunicação, indicando um futuro em que biotecnologia e engenharia caminham cada vez mais juntos.