Como o carbono-14 revolucionou a ciência e pode ser ameaçado pelas mudanças climáticas

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A queima de combustíveis fósseis, que não contêm carbono-14, está diluindo a concentração da substância na atmosfera. (Foto: Vilmantas Bekesius / Unsplash)

Nos anos 1940, o químico americano Willard Libby buscava comprovar a existência do carbono-14 na natureza. Ele encontrou rastros da substância no esgoto de Baltimore, nos EUA, e desenvolveu a técnica de datação por radiocarbono. Essa inovação, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Química em 1960, permite determinar a idade de materiais orgânicos com até 50 mil anos, medindo a quantidade remanescente de carbono-14, que se decompõe a uma taxa constante após a morte de um organismo.

A descoberta teve impacto profundo em diversas áreas. Foi usada para datar artefatos históricos, como os Manuscritos do Mar Morto, resolver mistérios forenses – como o caso da menina Laura Ann O’Malley, desaparecida nos anos 1970 –, e combater o tráfico de marfim, determinando se elefantes foram mortos após a proibição internacional em 1989.

Com o avanço da tecnologia, laboratórios como o de Oxford passaram a usar espectrômetros de massa aceleradores, que permitem analisar amostras minúsculas com maior precisão. A técnica também revelou fraudes em obras de arte e ajudou cientistas a entender melhor as mudanças climáticas ao longo dos milênios, sendo essencial para modelos climáticos atuais e relatórios do IPCC.

No entanto, o futuro da datação por radiocarbono está ameaçado. A queima de combustíveis fósseis, que não contêm carbono-14, está diluindo a concentração da substância na atmosfera. Isso pode fazer com que objetos modernos apresentem a mesma composição de radiocarbono que artefatos milenares, comprometendo a precisão da técnica.

Especialistas como Heather Graven alertam que, com emissões elevadas, a utilidade da datação por carbono-14 pode ser severamente reduzida. Ainda assim, pesquisadores como Paula Reimer trabalham para manter a precisão do método, desenvolvendo curvas de calibração baseadas em anéis de árvores que cobrem até 14 mil anos de variações.

A datação por carbono-14 continua sendo uma ferramenta vital para a ciência, mas sua eficácia dependerá das escolhas que a humanidade fizer em relação às emissões de carbono nas próximas décadas.

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