Um novo estudo sobre primatas desafiou a teoria de que a dominância masculina é uma característica predominante nas relações intersexuais entre esses animais, refutando a ideia de que o patriarcado da humanidade seria um reflexo do comportamento animal. A pesquisa, publicada em 7 de julho na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), revela que tanto machos quanto fêmeas podem exercer controle em suas interações, dependendo das circunstâncias, com evidências de dominância de ambos os sexos em diversas espécies.
O estudo, que analisou dados de mais de 100 espécies de primatas, mostrou que, na maioria dos casos, não há um domínio claro de um sexo sobre o outro. Apenas em algumas espécies, como bonobos e lêmures-de-cauda-anelada, as fêmeas se destacam como líderes, enquanto em outras, os machos dominam. O estudo desafiou a visão tradicional de que os machos, devido ao seu tamanho físico, sempre exercem maior poder sobre as fêmeas.
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A pesquisa também identificou que, nas poucas espécies onde ocorre uma dominância evidente, machos e fêmeas adotam estratégias distintas para garantir seu controle. Enquanto os machos frequentemente utilizam a força física e a coerção para afirmar sua posição, as fêmeas tendem a usar estratégias reprodutivas, controlando o acasalamento para garantir seu domínio, como observado em espécies monogâmicas que habitam árvores, onde as fêmeas podem escapar fisicamente dos machos.
A pesquisa foi realizada com base em dados de 253 populações de 121 espécies de primatas. Os resultados mostraram que, em 25 populações de 16 espécies, os machos frequentemente saíam vitoriosos em competições intersexuais, enquanto as fêmeas prevaleciam em 20 populações, também em 16 espécies. Em 106 populações, a dominância era moderada ou balanceada entre os sexos.
Além disso, o estudo observou que a dominância variava até dentro da mesma espécie, como no caso dos bonobos, onde as fêmeas dominaram entre 48% e 79% das contendas, enquanto em outras espécies, como os macacos patas, as fêmeas venceram em apenas 0% a 61% dos casos.
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Os pesquisadores também notaram que a dinâmica de dominância entre os sexos depende de fatores físicos, mas também de elementos como o habitat e o estilo de vida dos primatas. Esses novos achados fornecem uma visão mais complexa sobre as relações de poder no mundo animal, desafiando a noção de que a dominância masculina é um comportamento padrão universal.
De acordo com Peter Kappeler, coautor do estudo, “esse estudo oferece uma exploração mais abrangente da variação nas relações de dominância intersexual e desafia as visões tradicionais sobre o comportamento dos primatas”.