Uma pesquisa inovadora revelou que os chimpanzés possuem uma cultura acumulativa, transmitida de geração em geração principalmente por meio de fêmeas migrantes. Utilizando uma ferramenta analítica avançada chamada “máquina do tempo genética”, cientistas rastrearam a disseminação de comportamentos ligados ao uso de ferramentas ao longo de milhares de anos.
Chimpanzés são conhecidos por desenvolver técnicas sofisticadas de manipulação de objetos, que vão desde o uso de pedras para quebrar nozes até combinações de folhas e galhos para capturar cupins. Essas práticas culturais não surgem ao acaso, mas evoluem e se perpetuam dentro de grupos, mesmo diante de mudanças sociais, como a entrada de novos membros.
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O estudo, conduzido pelo Human Evolutionary Ecology Group da Universidade de Zurique e publicado na revista Science, destacou que as fêmeas, ao migrarem para novos grupos ao atingirem a maturidade sexual, carregam consigo essas práticas culturais. Apesar de enfrentarem desafios para se integrar a hierarquias estabelecidas, elas frequentemente adaptam e introduzem comportamentos inovadores, ajudando a preservar e expandir o repertório cultural da espécie.
A chamada “máquina do tempo genética” permitiu aos pesquisadores reconstruir padrões de migração e transmissão cultural entre populações de chimpanzés. Essa técnica moderna de genética populacional possibilita conectar eventos históricos com as práticas culturais observadas atualmente, superando a dificuldade de estudar artefatos perecíveis.
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Andrew Whiten, professor da Universidade de St Andrews, explica que a pesquisa traz evidências de que comportamentos complexos são raros, mas podem se espalhar amplamente graças à transmissão cultural. A descoberta também sugere que a habilidade de acumular cultura pode ter origem no último ancestral comum entre humanos e chimpanzés, abrindo novas perspectivas sobre a evolução cultural das duas espécies.
Além de reforçar a importância da preservação da biodiversidade, o estudo destacou a necessidade de proteger as culturas distintas desenvolvidas pelos chimpanzés. Práticas como o uso de ferramentas para quebrar nozes na África Ocidental estão ameaçadas por mudanças ambientais e pela perda de habitat.
A ONU já aprovou iniciativas para proteger essas tradições, que exigem parcerias entre comunidades locais, povos indígenas e organizações internacionais, como a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Para Whiten, “preservar a diversidade cultural dos chimpanzés é tão essencial quanto proteger sua sobrevivência como espécie”.