
Um estudo internacional inédito, conduzido ao longo de sete anos por 12 laboratórios e com a participação de 256 voluntários, colocou frente a frente as duas principais teorias neurocientíficas que tentam explicar a origem da consciência humana: a Teoria da Informação Integrada (TII) e a Teoria do Espaço de Trabalho Neuronal Global (GNWT, na sigla em inglês). A pesquisa, chamada Consórcio Cogitate, utilizou três tipos de neuroimagem para monitorar o cérebro dos participantes durante testes visuais, em busca de padrões que sustentassem uma das hipóteses.
A GNWT propõe que a consciência surge quando certas informações vencem a competição por atenção e se espalham por uma rede de áreas cerebrais, especialmente no córtex pré-frontal. Já a TII sugere que a consciência emerge da integração matemática da informação entre diferentes regiões cerebrais, principalmente nas áreas posteriores, sendo possível até quantificá-la por meio de um índice chamado phi.
Os resultados, publicados na revista Nature, foram inconclusivos, com evidências que favorecem parcialmente ambas as teorias. Apesar disso, os dados revelaram pistas importantes sobre como a percepção consciente se forma e indicaram que a consciência pode estar mais relacionada ao processamento sensorial do que se pensava, desafiando a centralidade do córtex pré-frontal.
A publicação gerou controvérsias fora do meio acadêmico. A TII foi duramente criticada por mais de 200 cientistas em duas cartas abertas, que a classificaram como pseudociência por não ser falseável e por levantar implicações éticas delicadas — como a possibilidade de que fetos, animais ou inteligências artificiais possam ter algum grau de consciência.
Defensores da TII, como Christof Koch, apontam que o debate é influenciado por disputas profissionais e que o valor de uma teoria não deve ser medido por suas implicações, mas por sua veracidade. Já a neurocientista Lucia Melloni, líder do estudo, defende mais dados e menos polêmicas, afirmando que os resultados podem ajudar no diagnóstico de “consciência encoberta” em pacientes em coma.
O estudo representa um passo importante na compreensão da consciência e abre caminho para novos avanços científicos e éticos.