Um estudo publicado na última sexta-feira (27) na revista Nature Aging revela como a desigualdade social pode prejudicar a saúde do cérebro, acelerando o envelhecimento e aumentando o risco de demência. A pesquisa, conduzida pelo consórcio ReD-Lat, em parceria com instituições de renome como o Instituto Latino-Americano de Saúde Cerebral (BrainLat) e o Trinity College Dublin, investigou como a desigualdade social impacta o volume e a conectividade cerebral em 2.135 indivíduos, em países da América Latina (Argentina, Colômbia, Chile, Peru e México) e na América do Norte (Estados Unidos).
Como o estudo foi feito
Os cientistas analisaram os dados com base nos índices de Gini, que medem a desigualdade econômica em nível de país e estado. A pesquisa revelou que altos índices de desigualdade social estão relacionados à redução do volume do cérebro e à diminuição da conectividade cerebral, principalmente nas regiões temporo-cerebelar, fronto-talâmica e hipocampal, associadas à memória. Esses efeitos estavam acentuados em diferentes regiões do cérebro nas populações da América Latina e nos Estados Unidos, com um impacto maior em relação ao Alzheimer.
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A pesquisa destaca que a desigualdade social não apenas afeta as condições socioeconômicas, mas também cria um ambiente de estresse que agrava a neurodegeneração, especialmente em idosos. A equipe de pesquisa sugere que as populações latinas, por exemplo, enfrentam uma carga maior devido às desigualdades estruturais, o que intensifica os efeitos da doença.
Outros fatores
Além da desigualdade socioeconômica, o estudo aborda fatores adicionais que influenciam a saúde cerebral, como poluição do ar, migração, mudanças climáticas, acesso a ambientes verdes e a presença de governos democráticos. Essas variáveis desempenham um papel importante no envelhecimento cerebral e na progressão da demência. Os pesquisadores alertam para a necessidade urgente de intervenções regionais específicas, visando reduzir as disparidades no acesso a cuidados de saúde e, assim, diminuir a carga da demência nas populações mais vulneráveis.
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Agustín Ibáñez, professor do Trinity College e diretor do Instituto Latino-Americano de Saúde Cerebral, destaca que os resultados reforçam a necessidade de ações que abordem as causas profundas das desigualdades estruturais para promover uma saúde cerebral mais equitativa em nível global.