Um estudo publicado na revista Nature revelou um caso inédito na biologia: a rainha da formiga-ceifadora-ibérica (Messor ibericus) é capaz de produzir machos geneticamente idênticos a uma espécie diferente, a formiga colhedora (Messor structor). A descoberta quebra paradigmas sobre barreiras reprodutivas entre espécies e abre novas perguntas sobre evolução e genética.
A pesquisa, conduzida pelo biólogo Jonathan Romiguier, da Universidade de Montpellier (França), analisou colônias em que M. structor não estava presente, mas ainda assim surgiam machos dessa espécie. O DNA mitocondrial — transmitido exclusivamente pela mãe — confirmou que esses indivíduos tinham origem direta das rainhas M. ibericus, sem transferência de DNA nuclear delas.
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Esse processo, descrito pelos cientistas como um tipo de “clonagem interespecífica”, garante às rainhas uma estratégia para manter o funcionamento das colônias. Isso porque, quando acasaladas apenas com machos da própria espécie, elas tendem a gerar novas rainhas, efeito atribuído a “genes egoístas” que priorizam a reprodução da linhagem fértil em detrimento das operárias. Ao recorrer ao esperma de M. structor, as colônias conseguem manter a produção de trabalhadoras, fundamentais para a sobrevivência coletiva.
Testes laboratoriais mostraram que cerca de 9% dos ovos postos pelas rainhas continham machos da espécie distinta, e em um caso monitorado por 18 meses, uma mesma rainha produziu machos de ambas as espécies.
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Os pesquisadores acreditam que o fenômeno ocorre pela “remoção” do DNA materno em um estágio inicial do desenvolvimento, mas o mecanismo exato ainda é desconhecido. A descoberta representa a primeira evidência de um animal gerando descendentes de outra espécie como parte natural de seu ciclo reprodutivo.