Mesmo nos ambientes mais esterilizados da Terra, a vida encontra um jeito de resistir. Um estudo publicado nesta quarta-feira (21) na revista Microbiome revelou que 26 espécies de bactérias nunca antes descritas foram descobertas em uma sala limpa da NASA usada na preparação da missão Phoenix Mars, enviada ao Planeta Vermelho em 2007.
O achado surpreende pela localização: uma área do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, submetida a rigorosos protocolos de esterilização e projetada justamente para evitar a contaminação biológica de outros planetas. Mesmo assim, amostras coletadas antes, durante e após a montagem da sonda revelaram a presença de dezenas de espécies de microrganismos extremófilos, capazes de sobreviver a temperaturas extremas, radiação e até ao vácuo do espaço.
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Desafio à esterilidade total
Salas limpas, como a usada pela NASA, são ambientes altamente controlados, com filtros HEPA, pressurização e trajes especiais. Mas, como mostram os pesquisadores, a presença de certos microrganismos é praticamente inevitável.
“Nosso objetivo era entender o risco de transferência de extremófilos durante missões espaciais e identificar quais organismos têm mais chance de sobreviver fora da Terra”, explicou Alexandre Rosado, microbiologista da Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah, na Arábia Saudita, e coautor do estudo.
Entre os microrganismos identificados, muitos pertencem a gêneros conhecidos por sua resistência extrema, como Bacillus e Paenibacillus, sugerindo que essas espécies podem ter evoluído dentro dos próprios ambientes laboratoriais.
Proteção planetária
Embora não haja evidência de que o módulo Phoenix — que pousou em Marte em 25 de maio de 2008 e operou por 161 dias — tenha levado esses microrganismos ao planeta, o estudo reforça a importância dos protocolos de proteção planetária.
A contaminação cruzada entre planetas é uma preocupação crescente, especialmente com o avanço de missões que buscam vida extraterrestre ou trazem amostras de volta à Terra.
“Estamos desvendando os microrganismos que podem suportar as condições mais extremas do universo”, destacou Kasthuri Venkateswaran, pesquisador sênior aposentado da NASA e coautor do artigo. “Esses organismos têm potencial de revolucionar a medicina, a conservação de alimentos e a bioengenharia.”
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Vida além da Terra?
Além das implicações para a segurança de missões interplanetárias, a descoberta levanta novas possibilidades para a busca por vida em outros planetas. Segundo os autores, entender como essas bactérias sobrevivem em ambientes extremos pode ajudar a identificar sinais de vida em Marte, Europa, Encélado ou outros mundos do Sistema Solar.
Por ora, os microrganismos descobertos seguem confinados à Terra — mas mostram que a vida, mesmo microscópica, pode ser incrivelmente resiliente e persistente, até mesmo nos ambientes mais hostis imagináveis.