O mundo pode ultrapassar, em apenas três anos, o limite de emissões de carbono considerado seguro para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. O alerta vem de um novo relatório publicado na revista Earth System Science Data, que aponta que o “orçamento de carbono” restante da Terra está se esgotando em ritmo acelerado.
De acordo com o levantamento, restam cerca de 130 bilhões de toneladas de CO₂ até que se atinja o limiar de 1,5 ºC de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais — uma meta estabelecida no Acordo de Paris, de 2015. Mas, ao ritmo atual de emissões — mais de 42 bilhões de toneladas por ano — esse teto pode ser rompido antes mesmo de 2028.
“A janela para permanecer dentro de 1,5 ºC está se fechando rapidamente”, afirmou Joeri Rogelj, professor do Imperial College London e coautor do estudo. “Cada pequeno aumento no aquecimento é importante, pois intensifica os extremos climáticos em todo o mundo.”
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Efeitos visíveis
O planeta já aqueceu, em média, 1,24 ºC desde a era pré-industrial. Esse aumento já se traduz em impactos visíveis: ondas de calor mais intensas, secas severas, elevação do nível do mar e derretimento acelerado das geleiras da Groenlândia e da Antártida Ocidental.
A nova análise foi conduzida por uma coalizão internacional de cientistas e reúne dez indicadores das mudanças climáticas, incluindo desequilíbrio energético do planeta, aumento das temperaturas extremas, emissões líquidas de gases de efeito estufa e a elevação do nível do mar.
Segundo os autores, o aquecimento global tem avançado a uma taxa de 0,27 ºC por década. Mais preocupante ainda é o fato de que o planeta hoje retém calor 25% mais rápido do que na década anterior — sendo 90% desse excesso absorvido pelos oceanos, com efeitos devastadores sobre os ecossistemas marinhos.
“Desde 1900, o nível médio global do mar subiu cerca de 228 mm”, explicou Aimée Slangen, climatologista do Instituto Real de Pesquisas Marinhas dos Países Baixos. “Embora pareça pouco, esse número tem provocado grandes impactos nas zonas costeiras, aumentando a erosão e tornando tempestades mais destrutivas.”
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Agricultura ameaçada e secas extremas
O estudo também faz referência a pesquisas complementares que projetam consequências preocupantes para a segurança alimentar global. Uma delas indica que a produtividade de culturas como milho e trigo pode cair até 40% até o fim do século, afetando países-chave como Estados Unidos, China e Rússia.
Outro levantamento, por sua vez, mostra que a severidade das secas já aumentou drasticamente desde 2022, com cerca de 30% da superfície terrestre do planeta enfrentando episódios moderados ou extremos.
Energia limpa como caminho
Diante do cenário, os autores destacam a urgência de uma transição energética em escala global. Para que o aquecimento global não avance rumo a 2 ºC ou mais — patamar considerado catastrófico —, as emissões precisam atingir seu pico nesta década e cair drasticamente logo em seguida.
“É possível evitar os piores cenários, mas isso exige ação imediata e sustentada”, adverte o relatório. A principal aposta está na ampliação da geração de energia limpa, como eólica e solar, e na redução rápida da queima de combustíveis fósseis.
Enquanto o tempo corre, o recado dos cientistas é claro: cada fração de grau importa — e o planeta está perigosamente perto de ultrapassar um ponto de não retorno.