
O livro “Slow Medicine – sem pressa para cuidar bem”, escrito pelos médicos Ana Coradazzi e André Islabão, traz à tona o conceito da slow medicine, um movimento iniciado em 2011, na Itália, por Marco Bobbio. A proposta é uma resposta à medicina tradicional, que, segundo os autores, tornou-se cara, impessoal e baseada em protocolos padronizados que desconsideram as individualidades dos pacientes.
A slow medicine valoriza a escuta atenta, o diálogo e o compartilhamento de decisões entre médicos e pacientes. A obra destaca que o envelhecimento natural não deve ser tratado automaticamente como doença, e que é preciso discernir entre alterações fisiológicas normais e condições patológicas reais. O movimento já conta com adeptos em países como Holanda, França, Estados Unidos, México e Brasil.
Três conceitos centrais são explorados no livro. O primeiro é o conceito positivo de saúde, que considera o bem-estar geral do indivíduo, mesmo na presença de doenças ou limitações físicas. Em contraste, a medicina convencional adota um conceito negativo, em que saúde é a ausência total de enfermidades.
O segundo ponto é o alerta contra o excesso de “pré-doenças”, como pré-diabetes e pré-hipertensão. Segundo os autores, esses diagnósticos muitas vezes são baseados em critérios cada vez mais rígidos e podem levar a tratamentos desnecessários, já que muitos pacientes rotulados como “pré-doentes” jamais desenvolverão a doença propriamente dita.
O terceiro conceito é o da “saúde em excesso”, que critica a busca incessante por um ideal de saúde perfeita, alimentando um mercado bilionário de produtos e serviços voltados a pessoas saudáveis.
A slow medicine também defende práticas como a desprescrição — a retirada gradual de medicamentos desnecessários — e o fortalecimento da relação médico-paciente como uma parceria baseada no respeito à autonomia. Para os autores, compreender o contexto de vida do paciente, incluindo experiências traumáticas e histórias de adoecimento, é essencial para um cuidado mais eficaz e humano.