Vênus vive: cientistas detectam sinais de atividade geológica no planeta

Data:

Mais de três décadas após a sonda Magellan, da NASA, mapear pela primeira vez a superfície de Vênus, cientistas acabam de revelar que o planeta vizinho não está geologicamente morto. Um estudo publicado nesta quarta-feira (21) na revista Science Advances identificou sinais de material quente emergindo do manto venusiano, o que indica atividade interna contínua.

A descoberta reforça a ideia de que, embora seja um mundo hostil e inabitável, Vênus pode ter uma dinâmica geológica mais próxima da Terra do que se imaginava. O estudo é liderado por Gael Cascioli, do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA.

“Mal podíamos acreditar no que víamos”, disse Cascioli à Scientific American. “Os dados sugerem que o planeta ainda está em transformação.”

Coronas ativas

A pesquisa se concentrou em 75 estruturas geológicas circulares conhecidas como coronas, formadas por plumas de rocha quente que sobem do interior do planeta e deformam sua crosta. Ao comparar os dados da Magellan com simulações em computador, os cientistas identificaram 52 coronas ainda ativamente moldadas por essas plumas.

Segundo a cientista planetária Anna Gülcher, da Universidade de Berna, os processos observados hoje em Vênus podem ser resquícios de uma dinâmica parecida com a da Terra primitiva, antes da formação das placas tectônicas.

Crosta fina e vulcanismo

Outro achado relevante foi a presença de áreas com crosta extremamente fina, com menos de 65 km de espessura. Isso aumenta a susceptibilidade a rompimentos e derretimentos, o que pode favorecer erupções vulcânicas e até reciclagem de elementos como a água — um fator que influencia diretamente a atmosfera do planeta.

“Essa atividade pode ajudar a explicar por que Vênus tem uma atmosfera tão densa e rica em dióxido de carbono”, destacou Justin Filiberto, também da NASA.

Novas missões a caminho

A descoberta fortalece o interesse pelas futuras missões espaciais destinadas a explorar Vênus. A NASA prepara a missão VERITAS, que fará um novo mapeamento da superfície com resolução quatro vezes maior que a da Magellan. Já a missão DAVINCI, prevista para 2029, vai investigar a composição atmosférica. A Agência Espacial Europeia também prepara a missão EnVision, voltada ao estudo da estrutura geológica, com lançamento previsto para 2030.

“Combinadas, essas missões podem revolucionar nossa compreensão sobre Vênus — e sobre a própria Terra”, afirmou Suzanne Smrekar, cientista do Laboratório de Propulsão a Jato, da NASA.

Com essa nova visão, Vênus deixa de ser apenas um planeta sufocante sob nuvens tóxicas e passa a ser visto como um mundo em movimento, com um passado — e talvez um presente — mais dinâmico do que a ciência supunha.

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Compartilhe:

Newsletter

spot_imgspot_img

Popular

Leia mais
Veja também

Será? Quinta força da natureza pode estar prestes a ser descoberta

Um grupo de cientistas apresentaram uma pesquisa em Liverpool,...

Depressão influencia no risco de doenças crônicas, diz estudo

Um estudo científico apontou que adultos de meia-idade com...

Ser humano pode chegar a viver 20 mil anos, aponta pesquisa

João Pedro de Magalhães, professor de biogerontologia molecular na...

Usina nuclear solar pode ser beneficiada com uso da neve no Canadá

Uma usina de energia solar gigantesca será construída no...