Quase 40 anos após ser considerada extinta na natureza, uma ave nativa da ilha de Guam, no Pacífico, deu um passo decisivo rumo à sobrevivência. O martim-pescador-de-Guam, ou sihek, como é chamado pelo povo indígena Chamorro, foi registrado se reproduzindo livremente pela primeira vez desde a década de 1980 — um feito inédito desde que a espécie foi dizimada por predadores invasores.
A ameaça principal veio da introdução da cobra-marrom-arborícola, espécie que não existia no ecossistema original de Guam e que, sem predadores naturais, causou o colapso da população do martim-pescador. Antes da extinção definitiva, 28 aves foram resgatadas e levadas para programas de reprodução em cativeiro.
No ano passado, nove desses pássaros — cinco machos e quatro fêmeas — foram soltos no Atol de Palmyra, um arquipélago remoto e protegido a mais de 5 mil quilômetros de Guam. O local, livre de predadores invasivos, foi escolhido por especialistas como um possível refúgio temporário para permitir a readaptação da espécie à vida selvagem.
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A primeira grande confirmação de sucesso veio em março deste ano, quando uma equipe de biólogos identificou um ninho ativo a cerca de 3,6 metros do solo, contendo um ovo fértil. O registro foi feito com o auxílio de uma câmera endoscópica, e os responsáveis pela reprodução são um casal de aves batizado como Tutuhan e Hinanao.
“Foi um momento de alegria genuína para todos nós”, comentou Martin Kastner, pesquisador envolvido na iniciativa, que é coordenada por instituições como a Nature Conservancy e a Sociedade Zoológica de Londres. “Esse resultado representa décadas de trabalho contínuo e cooperação internacional.”
Embora o casal reprodutor ainda seja jovem — com apenas nove meses de idade —, o surgimento do ovo superou as expectativas dos especialistas, já que em cativeiro os primeiros sinais de fertilidade normalmente ocorrem apenas a partir dos 11 meses.
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O plano agora é expandir a população no Atol de Palmyra e, gradualmente, preparar o retorno da espécie à sua origem em Guam. Novas solturas estão previstas para o outono, em ilhas próximas, com o objetivo de fortalecer o grupo em liberdade antes da reintrodução definitiva.
Considerada uma ave de comportamento territorial, o martim-pescador-de-Guam apresenta coloração vibrante: os machos exibem plumagem marrom no dorso, enquanto as fêmeas possuem peito branco. Ambos têm caudas azuladas e são habilidosos predadores de pequenos animais, como insetos, crustáceos e lagartos.
Mais do que um marco científico, o renascimento da espécie simboliza a importância da conservação ativa e de ações coordenadas para reverter processos de extinção. A missão agora, como definem os envolvidos, é clara: “Trazê-los de volta para casa. Tudo começa e termina com Guam.”