A banda Velvet Sundown conquistou meio milhão de ouvintes no Spotify em poucas semanas e chamou atenção por seu som melódico e sofisticado — até que uma descoberta surpreendente revelou que os integrantes simplesmente não existem. Todo o projeto, das músicas às identidades dos músicos, foi gerado por inteligência artificial.
Lançando dois álbuns no último dia 5 de junho, Dust and Silence e Floating on Echoes, o grupo apresentava um estilo descrito como “alt-pop cinematográfico com toques de soul dos sonhos”. Os nomes dos supostos integrantes — Gabe Farrow, Lennie West, Milo Rains e Orion “Rio” Del Mar — pareciam verossímeis, mas não havia qualquer registro concreto sobre eles fora das plataformas de música.
A farsa veio à tona após a publicação de imagens geradas por IA no perfil oficial da banda no Instagram. Os retratos digitalmente produzidos despertaram a atenção dos usuários, e a plataforma Deezer chegou a emitir um alerta diretamente nas faixas: “conteúdo gerado por IA”.
++ Você sabia? Grafite era usado como maquiagem há quase 3 mil anos
O caso da Velvet Sundown escancara um fenômeno crescente no setor musical: o avanço da música totalmente criada por algoritmos. Dados recentes divulgados pela Deezer indicam que cerca de 20% das faixas enviadas atualmente à plataforma são geradas por sistemas de IA — o dobro do volume registrado em janeiro de 2025.
Segundo Aurelien Herault, CEO da Deezer, o crescimento das ferramentas generativas representa uma transformação profunda no mercado musical. “A IA pode impulsionar a criatividade e a produção, mas é essencial que isso aconteça com responsabilidade e transparência para proteger os profissionais da música”, afirmou em nota.
A Deezer já implementou mecanismos para identificar conteúdos produzidos por sistemas como Suno e Udio, enquanto outras plataformas seguem caminhos diferentes. O Spotify, por exemplo, permite o envio de faixas geradas por IA, desde que haja a devida autorização e conformidade com as regras de direitos autorais. Já a Apple Music adota postura mais rígida, exigindo a identificação de produtores e executivos por faixa, o que limita a distribuição de obras puramente automatizadas.
Embora o som da Velvet Sundown tenha encantado milhares de ouvintes, o episódio reforça a urgência de debater os limites éticos e legais da inteligência artificial na música — e até onde a arte pode ser considerada humana em tempos de algoritmos criativos.