Brasil teria sido espionado pela Rússia, afirma jornal norte-americano

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Uma investigação publicada pelo The New York Times nesta quarta-feira, 21, aponta que o Brasil foi utilizado como base estratégica por agentes de inteligência da Rússia. O objetivo dos espiões não era monitorar autoridades brasileiras, mas criar identidades falsas e vínculos pessoais e comerciais no país, que serviriam de cobertura para operações clandestinas nos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio.

A revelação expõe a existência de uma rede complexa de espionagem ligada ao Kremlin, que operava sob disfarces variados em território brasileiro. A trama inclui registros civis forjados, empresas de fachada, relacionamentos amorosos e uma rotina construída ao longo de anos para dar verossimilhança aos personagens fictícios criados pelos espiões.

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Agentes infiltrados no Brasil

Um dos casos mais emblemáticos é o de Artem Shmyrev, agente russo que viveu no Rio de Janeiro sob o nome falso de Gerhard Daniel Campos Wittich, supostamente um cidadão brasileiro de 34 anos. Sob esse disfarce, ele abriu uma empresa de impressão 3D e manteve um relacionamento com uma mulher brasileira.

Mensagens obtidas pela reportagem mostram o lado humano e frustrado de sua missão. Em um desabafo enviado em 2021 à esposa — também agente russa —, Shmyrev afirmou:

“Ninguém quer se sentir como um perdedor. Por isso, continuo trabalhando e com esperança.”

Apesar de estar há anos no Brasil, ele fazia parte de uma “célula adormecida”, esperando instruções para iniciar atividades operacionais fora do país.

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Expansão e desmonte da rede

Segundo o NYT, Shmyrev não agia sozinho. Outros agentes russos também estavam infiltrados no Brasil, adotando perfis variados: de modelos e pesquisadores a empresários e joalheiros. Um deles foi detectado atuando na Noruega, outro mantinha conexões frequentes com Portugal.

Nos últimos três anos, a Polícia Federal brasileira passou a monitorar padrões suspeitos de comportamento e documentação, o que levou à identificação de pelo menos nove agentes da inteligência russa em solo nacional.

A operação de contraespionagem, batizada de “Leste”, envolveu cooperação com agências dos Estados Unidos, Israel, Holanda e Uruguai, e já resultou na prisão de dois infiltrados.

Alerta internacional

O caso mais conhecido da trama é o de Sergey Cherkasov, que foi inicialmente identificado pela CIA e posteriormente detido pela PF por uso de documentos falsos. Ele tentou entrar na Holanda, foi barrado, mas conseguiu voltar ao Brasil via São Paulo antes de ser capturado.

De acordo com o NYT, a mesma equipe da Polícia Federal responsável por esta operação é a que conduz a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Isso mostra que o Brasil tem se tornado uma peça-chave tanto no xadrez político interno quanto na geopolítica internacional.

A revelação de uma rede de espiões russos no país expõe vulnerabilidades no sistema de registros civis e imigração, ao mesmo tempo em que destaca o papel crescente do Brasil na inteligência global e na segurança internacional.

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