Um documento raro de Napoleão Bonaparte, escrito em pleno auge do conflito com a Igreja, foi vendido em leilão na França por mais de R$ 170 mil. Na carta, o imperador francês tenta dissociar seu nome de um dos episódios mais controversos de seu governo: a prisão do Papa Pio VII, que ele próprio havia ordenado.
Datada de julho de 1809, a correspondência foi enviada ao arqui-reitor Jean-Jacques-Régis de Cambacérès e apresenta uma tentativa clara de manipular a narrativa. Com tom estratégico, Napoleão afirma que a transferência do pontífice para a França teria ocorrido sem sua autorização, contrariando registros históricos que comprovam sua responsabilidade direta.
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Apesar da alegada surpresa, a ordem para a captura de Pio VII partiu diretamente do Palácio Imperial. Na ocasião, o general Étienne Radet invadiu o Palácio do Quirinal, em Roma, e levou o Papa à força, mantendo-o em cativeiro por cinco anos. O episódio simboliza o ponto mais tenso da relação entre Napoleão e o Vaticano, que se deteriorou após o pontífice se recusar a apoiar o Bloqueio Continental imposto pelo imperador.
O leilão, realizado em Fontainebleau e organizado pela casa Osenat, chamou atenção justamente pelo valor simbólico do conteúdo. Segundo os organizadores, o texto reflete uma clara tentativa do imperador de preservar sua imagem diante de um escândalo que unia política e religião.
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Jean-Christophe Chataignier, especialista da casa de leilões, explicou que Napoleão escolheu cuidadosamente cada palavra, consciente de que a carta poderia vir a público. “Ele precisava reafirmar sua autoridade sem admitir abertamente a ordem. Era uma manobra estratégica, tanto para a opinião interna quanto para os diplomatas europeus”, afirmou.
A venda da carta não apenas atraiu colecionadores e historiadores, como reacendeu o interesse por um dos momentos mais polêmicos do reinado napoleônico. O episódio ilustra bem como o imperador buscava controlar não apenas os campos de batalha, mas também a versão oficial da história.