Quantas vezes você já se perguntou “Será que falei demais?” ou “Fui inconveniente?” após uma interação social? Essas reflexões, comuns entre pessoas ansiosas, podem estar mais ligadas à evolução do cérebro humano do que ao simples nervosismo.
Um estudo publicado na revista Science Advances neste mês de novembro lança luz sobre como a evolução moldou as capacidades humanas de interpretar e reagir ao que os outros estão pensando. Por meio de exames de ressonância magnética funcional (fMRI), os cientistas mapearam com precisão inédita a rede cognitiva social — um sistema cerebral que desempenha papel central nas interações sociais.
A pesquisa revelou que essa rede está em constante comunicação com a amígdala, uma estrutura cerebral associada ao processamento de medo e outras emoções intensas. Embora a amígdala seja muitas vezes descrita como parte de nosso “cérebro de lagarto”, o estudo reforça sua importância na regulação emocional em humanos modernos.
O que é o “cérebro de lagarto”?
A teoria do cérebro triádico, proposta pelo neurocientista Paul MacLean nos anos 1990, divide o cérebro humano em três camadas evolutivas: o cérebro de lagarto (primitivo e instintivo), o cérebro de mamífero (emocional) e o cérebro racional (mais avançado).
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A amígdala, situada na camada primitiva, é responsável por respostas de sobrevivência, como detectar ameaças e processar o medo. É por isso que uma reação instintiva, como o coração acelerado ao avistar uma cobra, remonta a comportamentos típicos dos répteis.
Ansiedade, depressão e novas abordagens terapêuticas
A hiperatividade da amígdala tem sido associada a condições como ansiedade e depressão, que dificultam a regulação emocional. Porém, tratar diretamente essa região do cérebro é um desafio, dado seu posicionamento profundo e de difícil acesso.
A novidade do estudo abre possibilidades para abordagens menos invasivas. A estimulação cerebral profunda, uma técnica que envolve impulsos elétricos controlados, poderia ser adaptada para áreas conectadas à amígdala, proporcionando os mesmos benefícios terapêuticos com menos riscos.
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Segundo Rodrigo Braga, autor principal do estudo, “as áreas do cérebro que nos permitem entender a mente de outras pessoas evoluíram recentemente, sugerindo que essa habilidade é um processo relativamente novo”.
Esse avanço pode trazer esperanças para tratamentos mais eficazes e acessíveis, aliviando o impacto de condições emocionais debilitantes e marcando um novo capítulo na neurociência aplicada.