Mais de seis décadas após o assassinato de John F. Kennedy, novos documentos desclassificados pelo governo dos Estados Unidos trazem à tona detalhes até então desconhecidos sobre o contexto político da época — e o Brasil aparece como peça relevante nos bastidores da Guerra Fria.
Na leva de mais de dois mil arquivos divulgados recentemente por determinação da gestão Trump, aparecem registros da CIA que mencionam diretamente o cenário político brasileiro nos anos 1960. As informações revelam, por exemplo, que Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, recusou apoio de regimes comunistas — como China e Cuba — no auge da crise que precedeu a posse de João Goulart na presidência, após a renúncia de Jânio Quadros.
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Um dos telegramas aponta que Fidel Castro e Mao Tse-Tung ofereceram ajuda material e o envio de “voluntários” ao Brasil, mas Brizola teria rejeitado a proposta temendo o rompimento com os Estados Unidos. À época, o Brasil vivia uma tensão interna crescente, que culminaria três anos depois no golpe militar de 1964.
Outro documento da CIA, datado de julho de 1964, já após a deposição de Goulart, afirma que o regime cubano buscava influenciar movimentos revolucionários na América Latina, apresentando-se como referência ideológica para outros países do continente. Segundo os analistas norte-americanos, o fracasso em impedir o golpe militar no Brasil foi visto como uma derrota significativa para Havana.
Apesar disso, os relatórios indicam que Cuba continuava injetando recursos e apoiando grupos de esquerda em diferentes nações latino-americanas, como Chile e Argentina — ambos também marcados por regimes autoritários nas décadas seguintes.
As revelações reforçam o papel estratégico da América Latina no xadrez político da Guerra Fria e mostram que o Brasil esteve, sim, sob o radar das grandes potências em momentos decisivos de sua história recente.