
Pesquisas recentes publicadas na revista Science revelam que os cães já eram companheiros dos humanos em migrações intercontinentais há pelo menos 10 mil anos e que sua diversidade física antecede a criação das raças modernas. Um dos estudos analisou genomas de 17 cães antigos, com idades entre 9.700 e 870 anos, provenientes de sítios arqueológicos na Sibéria, na estepe euroasiática central e no noroeste da China. Esses dados foram comparados com genomas de cães modernos e humanos antigos.
Os resultados indicam que os cães se deslocavam junto com grupos humanos — como caçadores-coletores, agricultores e pastores — e que havia intercâmbio de cães entre comunidades distintas. Isso mostra que os cães não apenas acompanhavam os humanos em suas jornadas, mas também se integravam às suas sociedades.
Outro estudo focou na evolução física dos cães, analisando digitalmente 643 crânios com até 50 mil anos. A pesquisa concluiu que características como focinho encurtado e rosto mais largo, típicas dos cães em relação aos lobos, surgiram já no início do Holoceno, cerca de 10,8 mil anos atrás. Cães dessa época, embora menores e menos variados que os atuais, já apresentavam uma diversidade surpreendente — cerca da metade da encontrada hoje e o dobro da observada em lobos do Pleistoceno.
A bioarqueóloga Allowen Evin, da Universidade de Montpellier, destaca que essa variedade não surgiu apenas nos últimos dois séculos, como se acreditava. Segundo ela, a diversidade já era significativa desde os primeiros registros de domesticação. As causas dessa diversidade ainda são incertas, mas podem estar relacionadas a tentativas iniciais de selecionar cães conforme as necessidades humanas, como caça, proteção ou companhia.
Essas descobertas reforçam a longa e complexa relação entre cães e humanos, mostrando que o vínculo entre as espécies é muito mais antigo e profundo do que se imaginava.
