Após décadas de promessas e interrupções, o governo da primeira-ministra Giorgia Meloni decidiu retomar oficialmente a construção da ponte sobre o Estreito de Messina, uma obra monumental que busca conectar a ilha da Sicília ao território continental da Itália. Se concretizado, o projeto dará origem à maior ponte suspensa do mundo, com 3,3 km de extensão.
A travessia, entre as cidades de Messina (Sicília) e Villa San Giovanni (Calábria), permitirá o deslocamento de veículos e trens em aproximadamente 15 minutos, por meio de uma rodovia de seis pistas e uma linha ferroviária dupla. O orçamento previsto é de €13,5 bilhões (cerca de R$ 86 bilhões), financiado pelo governo central e por contribuições regionais.
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Benefícios prometidos
O governo argumenta que a ponte será crucial para o desenvolvimento do sul do país, gerando até 120 mil empregos e ajudando a reduzir o chamado “custo de insularidade”, que gira em torno de €6,5 bilhões anuais (R$ 41 bilhões). Esse custo se refere às desvantagens logísticas, econômicas e sociais enfrentadas por regiões insulares com acesso limitado ao continente.
Segundo o ministro da Infraestrutura, Matteo Salvini, as obras devem começar no verão europeu de 2025, caso o projeto seja aprovado oficialmente ainda em junho. O consórcio responsável deve continuar sendo o liderado pela construtora Salini Impregilo (atualmente WeBuild), que afirmou já ter os planos técnicos prontos para execução.
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Críticas e riscos
Apesar do entusiasmo do governo, o projeto enfrenta forte resistência de setores técnicos, ambientais e sociais. O Estreito de Messina está localizado em uma zona sísmica ativa, com histórico de terremotos devastadores. A região também sofre com ventos que superam 100 km/h, o que levanta dúvidas sobre a estabilidade e segurança da estrutura.
Organizações ambientalistas, como a Legambiente, alertam que a ponte ameaça reservas naturais protegidas e rotas migratórias de aves e mamíferos marinhos. Segundo os ativistas, a obra pode comprometer uma das maiores concentrações de biodiversidade do planeta.
Outro temor recorrente diz respeito à infiltração do crime organizado nas obras. Máfias locais, como a ’Ndrangheta (Calábria) e a Cosa Nostra (Sicília), operam ativamente na economia regional e têm histórico de envolvimento em grandes projetos de infraestrutura. De acordo com especialistas, esses grupos atuam de forma discreta, usando empresas de fachada e redes de corrupção para se infiltrar em licitações e contratos públicos.
Além disso, há um ceticismo generalizado entre os moradores locais. Muitos veem o projeto como uma promessa política repetida que jamais se concretiza. “Querem fazer uma região inteira acreditar que sua única esperança está nesta ponte que nunca chega”, afirmou o ativista Luigi Storniolo, integrante do movimento “No Ponte”.
Histórico
A ideia de construir uma ponte sobre o Estreito de Messina existe desde 1971 e já foi arquivada e retomada diversas vezes por governos de diferentes espectros ideológicos. A atual tentativa promete tirar do papel um dos projetos mais ambiciosos da engenharia moderna — mas ainda enfrenta um longo caminho até sair do chão.