Justiça francesa determina mudança de nome de bairro com termo racista

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Um tribunal francês determinou a remoção do nome do bairro “La Négresse”, em Biarritz, no sudoeste da França, após considerar a expressão ofensiva e incompatível com os princípios de dignidade e igualdade. A decisão foi tomada pelo tribunal administrativo de apelações de Bordéus e atende a um pedido da associação Mémoires et Partages, que desde 2019 buscava a alteração do nome.

A prefeita de Biarritz, Maider Arosteguy, terá um prazo de três meses para apresentar a mudança ao conselho municipal. Apesar da ordem judicial, a medida divide opiniões entre moradores e autoridades locais.

O nome do bairro remonta ao século 19 e, segundo alguns historiadores, pode ter sido inspirado em uma mulher negra que viveu na região, possivelmente uma ex-escravizada ou descendente. Outra teoria sugere que a denominação teria origem na expressão gasconha “lane grese”, que faz referência ao solo argiloso do local.

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Independentemente da origem, o termo ganhou conotação pejorativa ao longo do tempo, sendo associado ao passado escravocrata francês. A França desempenhou um papel significativo no tráfico transatlântico de escravos entre os séculos 17 e 19, e cidades como Bordeaux — localizada a cerca de 170 quilômetros de Biarritz — foram centros comerciais desse período.

Ativistas e organizações antirracismo comemoraram a decisão como um avanço no combate à discriminação e na revisão de nomes de espaços públicos que remetem a períodos históricos de opressão. Karfa Diallo, fundador da Mémoires et Partages, classificou a medida como um passo necessário.

“Essa situação se arrastou por tempo demais. Era fundamental corrigir essa injustiça”, afirmou Diallo.

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Por outro lado, a decisão gerou críticas e resistência, especialmente entre moradores que defendem a permanência do nome. A prefeita de Biarritz lamentou a decisão judicial e anunciou que pretende recorrer ao Conselho de Estado, instância máxima da justiça administrativa francesa.

“Mesmo que os tribunais nos obriguem a mudar, os habitantes continuarão chamando o bairro assim”, declarou Arosteguy.

O caso reacende o debate sobre a necessidade de reavaliar nomes de ruas e bairros ligados a um passado controverso, equilibrando memória histórica e respeito aos valores atuais.

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