Walter Frankenstein enfrentou a barbárie do Holocausto escondido em plena capital do regime nazista. Sobreviveu ao terror de Hitler, formou uma família em meio aos bombardeios e dedicou seus últimos anos à missão de manter viva a memória do horror. Morreu nesta semana, aos 100 anos, em Estocolmo, na Suécia, onde vivia desde a década de 1950.
A notícia foi confirmada por Klaus Hillenbrand, amigo próximo e autor de um livro sobre sua vida, e pela Fundação Memorial do Holocausto em Berlim. Nascido em 1924, na então Alemanha, Walter foi expulso da escola ainda na infância por ser judeu. Mais tarde, na capital, formou-se como pedreiro e conheceu Leonie Rosner, sua companheira de vida e de resistência.
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Eles testemunharam juntos o início do pogrom nazista em 1938, quando sinagogas e lojas judaicas foram atacadas na chamada Noite dos Cristais. A repressão se intensificou, e o casal decidiu desaparecer. Em 1943, com um bebê nos braços e o segundo a caminho, mergulharam na clandestinidade, vivendo quase dois anos escondidos em sótãos, casas de amigos e ruínas bombardeadas.
Entre os milhares de judeus que se esconderam em Berlim, poucos sobreviveram. As crianças eram ainda mais raras. Os filhos de Walter estavam entre os únicos 25 pequenos judeus que saíram vivos da capital nazista. Depois da guerra, a família seguiu para a então Palestina e, anos mais tarde, se estabeleceu na Suécia.
Mesmo longe, Frankenstein jamais se desligou da Alemanha. Visitava o país com frequência para contar sua história a jovens estudantes e reforçar a importância de resistir ao esquecimento. Recebeu, em 2014, a Ordem do Mérito do governo alemão. Guardava a medalha com a mesma reverência com que guardava a estrela amarela imposta pelos nazistas — para ele, símbolos de tempos opostos: um de exclusão, outro de reconhecimento.
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Além de sobrevivente, Walter também era torcedor fervoroso do Hertha Berlin. Chegou a ser banido dos estádios durante o nazismo, mas nunca deixou de acompanhar o time. Foi homenageado em 2018 com o título de membro honorário do clube, que lhe reservou o número 1924, o ano em que veio ao mundo.
A vida de Walter Frankenstein é daquelas que a História não pode apagar.