Pesquisadores da Universidade de Reading, na Inglaterra, identificaram o que pode ter sido o primeiro hospício conhecido do Reino Unido, após descobertas feitas em um antigo mosteiro anglo-saxão do século 8, localizado na vila de Cookham, em Berkshire. Os indícios surgiram a partir da análise de esqueletos encontrados no cemitério do local, que revelaram uma taxa anormalmente alta de doenças graves.
Segundo a equipe, 11% dos restos mortais apresentavam sinais de câncer — número muito superior à média nacional para achados da mesma época, que é de 0,8%. Muitos dos esqueletos também exibiam úlceras de pressão, sinais de infecções prolongadas e até marcas de intervenções cirúrgicas primitivas, o que sugere que os indivíduos passaram longos períodos acamados e recebendo cuidados.
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“Essas pessoas provavelmente não eram todas da comunidade local. Elas foram levadas até o mosteiro, o que indica que buscavam algum tipo de tratamento ou assistência”, explicou a bioarqueóloga Mary Lewis, responsável pela análise dos corpos.
O mosteiro foi governado pela Rainha Cynethryth e pelo Rei Offa, figuras influentes na cristianização da Inglaterra. Vestígios de estruturas avançadas para a época, como um moinho de água, reforçam a ideia de que o local também funcionava como centro de inovação e cuidado social.
As escavações, iniciadas em 2021, devem continuar com análises mais detalhadas, como o estudo do cálculo dental — que pode conter resíduos de ervas medicinais e substâncias utilizadas em rituais ou tratamentos — e testes de isótopos nos ossos, para descobrir a origem geográfica dos indivíduos enterrados ali.
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“Esse sítio revela que os mosteiros anglo-saxões não apenas promoviam a fé cristã, mas também ofereciam acolhimento e assistência aos doentes em um período de profundas transformações sociais”, disse o professor Gabor Thomas, especialista em arqueologia medieval.
A descoberta foi destacada pela revista Archaeology Magazine como um marco para a compreensão dos cuidados médicos e espirituais na Inglaterra medieval.