Muito além da imagem de seres primitivos com gestos repetitivos, os neandertais vêm ganhando um novo reconhecimento por sua habilidade técnica. Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade de Wollongong, na Austrália, revelou que eles não apenas fabricavam ferramentas de pedra, mas faziam isso com um grau de controle e cálculo antes impensáveis.
Os cientistas analisaram a técnica Levallois — método amplamente utilizado por neandertais entre 200 mil e 400 mil anos atrás — e descobriram que, ao contrário do que se acreditava, a geometria da pedra não era o único fator determinante na criação das lascas. O segredo estava nos ângulos.
“Os neandertais demonstraram capacidade de ajustar o ângulo do impacto de maneira precisa, o que influencia diretamente o formato e a espessura da lasca retirada”, apontam os autores da pesquisa, publicada na revista Archaeological and Anthropological Sciences.
Utilizando núcleos de vidro moldados com maquinário automatizado e impactos executados por sistemas pneumáticos, os testes comprovaram que golpes mais perpendiculares geravam lascas maiores e mais grossas, enquanto ângulos mais inclinados produziam fragmentos mais finos e afiados. Isso indica que os neandertais tomavam decisões conscientes a cada golpe — e não apenas reproduziam um padrão.
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A precisão exigida para esse controle revela um nível elevado de coordenação motora, percepção espacial e até capacidade de antever resultados, características que contradizem antigas suposições sobre sua limitação cognitiva. Mais do que isso: a execução de lascas em ângulos baixos — que demandam força e aumentam o risco de falha — mostra que havia uma estratégia sofisticada por trás do gesto.
Com essas evidências, os pesquisadores propõem uma reavaliação dos modelos tradicionais de fratura de pedra, que minimizavam o papel da intenção humana no processo. Para os autores, o estudo reforça que a fabricação de ferramentas entre os neandertais envolvia mais do que instinto — era um trabalho de decisão, técnica e refinamento.
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“Isso amplia nossa apreciação do quão dinâmico e exigente era o processo de fabricação de ferramentas entre os neandertais”, afirmam. E, com isso, mais um degrau é subido na reconstrução da real complexidade desses antigos humanos.