Novo estudo revela diversidade e simbolismo em antigos rituais funerários medievais

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Por muito tempo, os arqueólogos acreditaram que o costume medieval de enterrar pessoas em camas representava uma tradição única, restrita a determinados grupos sociais. No entanto, uma nova pesquisa acaba de mostrar que a prática era muito mais diversa e regionalmente variada do que se imaginava.

Publicado no European Journal of Archaeology, o estudo liderado pela arqueóloga Astrid Noterman oferece um panorama mais amplo sobre os enterros em leitos de madeira, uma prática que ocorreu entre os séculos VI e X em várias partes da Europa, incluindo Alemanha, Inglaterra e Escandinávia.

Uma prática com múltiplos significados

De acordo com a pesquisa, os enterros em camas eram especialmente comuns entre mulheres de status elevado, principalmente durante o início do período anglo-saxão. No entanto, as análises apontam que os contextos, os objetos funerários e até mesmo os modos de disposição dos corpos variavam bastante de uma região para outra.

“Esses rituais não podem mais ser tratados como uma única categoria homogênea”, afirma Noterman. “É preciso falar em práticas funerárias em camas, no plural, para refletir a complexidade cultural envolvida.”

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Diferenças regionais marcantes

Na Alemanha, por exemplo, os enterros geralmente ocorriam em cemitérios simples, sem grande distinção arquitetônica. As camas eram modestas, feitas de madeira, e acompanhadas por objetos discretos, como tigelas ou anéis. Já na Inglaterra, os arqueólogos encontraram sepultamentos em locais reaproveitados, como antigos montes funerários.

Em alguns casos ingleses, os leitos eram desmontados antes do sepultamento. Um exemplo masculino raro também foi identificado em Lapwing Hill, no condado de Derbyshire.

Além disso, análises de isótopos de estrôncio indicam que muitos dos enterrados nesses túmulos ingleses, como os encontrados em Trumpington e Edix Hill, não eram nativos da região, sugerindo a influência de costumes trazidos por migrantes de outras partes da Europa.

A influência escandinava e os rituais de poder

Na Escandinávia, a tradição ganhou uma escala ainda mais impressionante. Enterros como os de Oseberg e Gokstad, na Noruega, incluíram camas dentro de navios funerários, acompanhadas por artefatos de luxo e estrategicamente posicionadas próximas a cursos d’água para maior visibilidade.

As duas mulheres sepultadas em Oseberg, por exemplo, apresentavam origem genética ligada à região do Mar Negro, mostrando que a prática também refletia redes de contato interculturais que cruzavam continentes.

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Um olhar mais humano e emocional

Além dos aspectos materiais, o estudo adota conceitos da chamada “arqueologia do afeto”. A ideia é que os sepultamentos em camas não tinham apenas significado social ou simbólico, mas também emocional.

Segundo Noterman, as camas eram parte constante das principais fases da vida — nascimento, doença, casamento e morte. Assim, sua presença nos funerais pode representar um último gesto de cuidado, acolhimento ou despedida, especialmente em contextos cristãos ou de elites escandinavas.

A pesquisa, portanto, convida a uma reinterpretação dos rituais funerários da Idade Média, destacando que o ato de enterrar alguém em uma cama era um fenômeno moldado por múltiplos fatores: identidade cultural, status social, tradição religiosa e, sobretudo, sentimentos humanos diante da perda.

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