Em meio a tantos capítulos marcantes da história do futebol inglês, um episódio ocorrido em 2005 ainda se destaca pelo ineditismo e pela repercussão que ultrapassou os limites dos gramados. Naquele ano, o ponta Jermaine Pennant, então com 22 anos, protagonizou uma cena improvável: disputou uma partida da Premier League usando uma tornozeleira eletrônica, tornando-se o primeiro atleta da elite do futebol inglês a jogar sob monitoramento judicial.
Emprestado pelo Arsenal ao Birmingham City, Pennant cumpria uma sentença por dirigir embriagado, sem carteira de habilitação e com um veículo sem seguro. Detido por três meses, ele deixou a prisão após pouco mais de um mês, beneficiado por um regime de liberdade condicional que impunha restrições severas: recolhimento obrigatório noturno, retorno à prisão todas as noites e o uso contínuo da tornozeleira.
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Mesmo diante dessas limitações, recebeu autorização para entrar em campo contra o Tottenham, em uma decisão que contou com o aval da Justiça e do árbitro da partida, Howard Webb. No gramado, o monitor eletrônico em seu tornozelo esquerdo chamou a atenção tanto quanto sua atuação.
O caso rapidamente ultrapassou o noticiário esportivo e levantou debates sobre privilégios no sistema penal britânico. Organizações como a Campanha contra Direção Alcoolizada criticaram o tratamento dispensado ao jogador. “Parece que a Justiça muda de acordo com quem está no banco dos réus”, declarou na época Carole Whittingham, representante da entidade.
Ainda assim, Pennant conseguiu manter o foco e provou que seu desempenho em campo não havia sido afetado. Sua trajetória prosseguiu com passagens por clubes como Liverpool, Stoke City e algumas experiências internacionais. Porém, a imagem do atleta vestindo chuteiras e tornozeleira segue como um dos episódios mais inusitados da história recente do futebol europeu.
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Curiosamente, ele não foi o primeiro jogador a atuar com o dispositivo no país: o lateral Gary Croft já havia feito o mesmo em 2000, quando defendia o Ipswich Town na segunda divisão inglesa. A diferença foi o palco: o impacto de ver um jogador da Premier League sob monitoramento judicial fez do episódio de Pennant um marco midiático.
Mais do que uma anedota esportiva, o caso continua a ser citado como símbolo da delicada fronteira entre a fama e a responsabilidade legal. Para muitos, foi um lembrete de que celebridade não garante impunidade — embora, por vezes, suavize seu impacto.