Onze ararinhas-azuis libertadas recentemente no semiárido nordestino receberam diagnóstico de circovírus, uma infecção geralmente fatal e sem tratamento conhecido. A confirmação do problema, divulgada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na última quinta feira, 27, imediatamente reacendeu a preocupação sobre o futuro do programa de reintrodução da espécie. Além disso, o anúncio reforçou a fragilidade desse processo, que tenta restaurar uma população desaparecida da natureza por décadas.
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A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), considerada um dos pássaros mais ameaçados do planeta, sumiu de seu ambiente natural por cerca de 25 anos. Esse desaparecimento ocorreu principalmente pela destruição do habitat e também pela captura ilegal para colecionadores particulares. Desde 2020, entretanto, dezenas de aves criadas em cativeiro — muitas enviadas da Alemanha — chegaram ao Brasil. Cerca de 20 voltaram à natureza, mas apenas 11 sobreviveram, justamente as que agora testaram positivo para o vírus.
O circovírus, conforme esclarece o ICMBio, provoca deformações no bico, falhas no empenamento e mudanças na coloração das penas. Embora a doença não represente risco para seres humanos ou para aves de produção, ela quase sempre leva ao óbito os papagaios infectados. Assim, a situação das ararinhas voltou a preocupar especialistas que acompanham cada etapa da reintrodução.
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O problema, contudo, ultrapassa as aves já soltas. Outros 21 indivíduos que permanecem em um criadouro na Bahia também testaram positivo para o vírus. As autoridades ainda investigam a origem do surto; entretanto, as condições do criadouro Bluesky, responsável pelos animais, rapidamente levantaram suspeitas. Durante fiscalizações do ICMBio, do Inema e da Polícia Federal, os agentes encontraram comedouros “extremamente sujos”, acúmulo de fezes e tratadores sem equipamentos de proteção, além de roupas inadequadas para o manejo.
Como resultado dessas irregularidades, o criadouro recebeu multa de R$ 1,8 milhão por falhas nos protocolos de biossegurança. A Bluesky atua em parceria com a Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), organização alemã que possui a maior parte das ararinhas-azuis em registro no mundo. Apesar disso, as novas descobertas intensificaram as críticas à qualidade do manejo e ao controle sanitário da instituição.
