Beatrice Welles, filha do cineasta Orson Welles, criticou duramente a iniciativa da empresa de inteligência artificial Showrunner, que pretende recriar 43 minutos perdidos de The Magnificent Ambersons (1942), filme considerado uma das obras mais ambiciosas de seu pai.
As cenas originais foram removidas e destruídas pela RKO, estúdio que, à época, modificou a trama para inserir um desfecho mais otimista.
Em publicação nas redes sociais, Beatrice afirmou estar “furiosa e enojada” com o projeto. “De todos os diretores, escolheram meu pai, um homem que fez apenas 13 filmes. Um diretor para o qual Hollywood, então e agora, virou as costas”, desabafou.
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Integridade artística em debate
A herdeira lembrou que Orson Welles já enfrentava, em vida, intervenções de estúdios sobre suas obras — como ocorreu em A Marca da Maldade (1958) — e classificou a proposta como mais uma violação da integridade artística do cineasta.
A Showrunner, descrita como a “Netflix da IA” e apoiada pela Amazon, anunciou que o projeto não tem caráter comercial, uma vez que os direitos pertencem à Warner Bros. Discovery e à Concord. O CEO da empresa, Edward Saatchi, declarou ao Hollywood Reporter que a iniciativa busca apenas devolver ao público a versão mais próxima possível do filme original. “Nosso objetivo não é vender os 43 minutos, mas permitir que eles existam no mundo depois de 80 anos de especulação sobre o que poderia ter sido a obra definitiva de Welles”, afirmou.
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Controvérsia no meio cultural
A proposta, porém, dividiu críticos e admiradores. Parte do público defende que a tecnologia pode aproximar o filme da concepção idealizada por Welles. Outros, como Beatrice, consideram o uso da inteligência artificial uma invasão indevida e desrespeitosa.
Segundo o jornal Independent, a polêmica reflete um debate mais amplo: até que ponto a inteligência artificial deve ser usada na reconstrução de obras mutiladas pela história? Seria essa prática um gesto de preservação ou uma forma de distorcer o legado artístico?
Para muitos especialistas, a controvérsia em torno de The Magnificent Ambersons simboliza o dilema contemporâneo entre memória, inovação tecnológica e respeito à visão de grandes criadores do cinema.