O sucesso da série O Eternauta na Netflix reacendeu um capítulo doloroso da história recente da Argentina: o desaparecimento do autor Héctor Germán Oesterheld, de suas quatro filhas — duas delas grávidas — e de seus genros durante a ditadura militar instaurada em 1976.
Baseada em uma HQ lançada em 1957, a trama de O Eternauta se passa em Buenos Aires e narra a chegada de uma nevasca tóxica que obriga os sobreviventes a se isolar. Em meio ao colapso da civilização, o personagem Juan Salvo luta para sobreviver a uma invasão alienígena — metáfora poderosa contra o imperialismo.
Décadas após a publicação da obra, a vida do próprio criador foi tragicamente atravessada pelo regime militar argentino. Em 1977, Oesterheld foi preso, e sua família também levada. Nunca mais foram vistos. A repressão deixou um rastro de cerca de 30 mil mortos e desaparecidos no país, segundo organizações de direitos humanos.
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Agora, com a visibilidade trazida pela série, grupos como as Abuelas de Plaza de Mayo e a Hijos voltam a buscar pistas sobre os possíveis netos de Oesterheld, que teriam nascido em cativeiro. Essas crianças, arrancadas de suas mães antes da execução delas, foram entregues a outras famílias e cresceram sem saber sua verdadeira identidade. Estima-se que ao menos 500 bebês tenham sido sequestrados durante os anos de chumbo.
A Hijos lançou um apelo nas redes sociais direcionado a pessoas nascidas entre novembro de 1976 e janeiro de 1978 que tenham dúvidas sobre sua origem. “Podem ser seus netos”, afirmam.
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A viúva de Oesterheld, Elsa, dedicou seus últimos anos à busca pelos netos. Faleceu em 2015, sem reencontrá-los, mas com a esperança de que um dia soubessem quem realmente são.
A repercussão de O Eternauta volta a dar voz a uma história que, mais do que ficção científica, representa a luta pela memória, pela verdade e por justiça.