Lançado em 2009, o blockbuster 2012, dirigido por Roland Emmerich, conquistou o público com cenas de destruição em larga escala — cidades sendo engolidas por terremotos, tsunamis arrasando continentes e erupções vulcânicas transformando o planeta em um campo de ruínas. Mas apesar do espetáculo visual, o filme se baseia em uma interpretação equivocada de uma data simbólica do calendário maia: 21 de dezembro de 2012.
Na ficção, a data marcaria o fim do mundo, uma espécie de profecia apocalíptica vinda da antiguidade. Na vida real, no entanto, os maias nunca anunciaram o fim da humanidade. O que ocorria naquele dia era apenas o encerramento de um ciclo de mais de cinco mil anos na chamada “contagem longa”, uma forma altamente sofisticada que os maias usavam para registrar o tempo — muito mais ligada à renovação espiritual do que a qualquer ideia de destruição global.
O roteiro de 2012 preferiu explorar teorias conspiratórias e pseudociência, como a reversão dos polos da Terra, defendida pelo personagem vivido por Woody Harrelson. Na trama, ele é um excêntrico radialista que, apesar das aparências, antecipa com precisão o caos que se aproxima — uma narrativa que reforça o tom alarmista do filme.
Essa visão distorcida da cultura maia não surgiu do nada. Nas décadas anteriores ao lançamento do longa, estudiosos ocidentais como Michael D. Coe ajudaram a popularizar a ideia de que os maias previram um apocalipse em 2012 — uma interpretação hoje considerada incorreta por arqueólogos e especialistas em civilizações mesoamericanas.
Inscrições e artefatos maias encontrados após os anos 1980 mostram, na verdade, que o calendário seguia além de 2012, mencionando celebrações e eventos previstos para datas futuras. Para os maias, o tempo era cíclico, marcado por renascimentos, e não linear nem com um fim absoluto.
Embora 2012 tenha sido um sucesso comercial, arrecadando mais de US$ 760 milhões no mundo todo, sua abordagem ajudou a consolidar um mito sem base histórica. O verdadeiro legado dos maias é muito mais profundo do que uma previsão catastrófica: trata-se de uma civilização com vasto conhecimento astronômico, sistemas complexos de escrita e uma visão de mundo onde o tempo representava transformação — nunca destruição.