O fenômeno Hamilton: por que o musical é tão revolucionário

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O conceito de escalar atores sem levar em conta sua etnia — o chamado color-blind casting — já tinha passado pela Broadway em musicais como Jesus Cristo Superstar e Les Misérables. Mas quando Hamilton estreou em 2015, no circuito off-Broadway, algo diferente aconteceu.

Criado por Lin-Manuel Miranda, o musical não apenas colocou atores não brancos nos papéis dos pais fundadores dos EUA, como transformou essa escolha em parte central de sua mensagem. Não se tratava de escalação “cega”, mas sim de uma decisão consciente e política, sem a qual a peça dificilmente teria se tornado o fenômeno cultural que é hoje.

História dos EUA com a voz do presente

Miranda partiu da vida de Alexander Hamilton — órfão nascido nas Antilhas que usava a escrita como arma contra a adversidade — para criar paralelos com a trajetória de rappers. Assim, grande parte da narrativa é construída em rap e hip-hop, gêneros associados a comunidades historicamente marginalizadas.

Em cena, nomes familiares da história americana como George Washington, Thomas Jefferson e Aaron Burr são interpretados por artistas negros. Já as irmãs Schuyler ganham novas identidades por meio de atrizes filipina, negra e latina. O resultado é um retrato diverso dos EUA que ecoa muito mais o presente do que o passado.

“Nós nunca imaginamos a escalação de outro modo. Isso não é color-blind casting”, afirmou o diretor Thomas Kail ao The Guardian.

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Imigrantes em destaque

A célebre frase “Immigrants — we get the job done” se tornou um dos momentos mais aplaudidos das apresentações. Ao colocar os imigrantes no centro da narrativa — como o próprio Hamilton e o francês La Fayette — o musical desafia a forma tradicional como a independência dos EUA é ensinada.

Para a atriz Renée Elise Goldsberry (Angelica), a importância está em explicitar “o sentimento de propriedade que todas as pessoas deveriam ter sobre a fundação deste país”.

Liberdade poética e críticas

Apesar do impacto positivo, Hamilton não está livre de críticas. O musical suaviza o papel de Hamilton em medidas que restringiam imigrantes — os Atos de Alien e Sedição — e praticamente silencia sobre a escravidão, questão central na época. A peça também toma liberdades criativas, como ao retratar Angelica Schuyler de forma mais próxima do protagonista do que foi historicamente.

Ainda assim, essas escolhas fazem parte da proposta: recontar a história não como registro literal, mas como celebração da diversidade americana.

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Um marco cultural

Com inovação em composição, estrutura, coreografia e elenco, Hamilton é visto como uma das obras mais revolucionárias da Broadway. Como resumiu Leslie Odom Jr., intérprete de Burr:

Hamilton é sobre iluminar todos os jeitos que somos semelhantes, e não diferentes.”

 

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