Antes mesmo da popularização de aplicativos para registrar leituras, como o Goodreads ou o Letterboxd, o americano Dan Pelzer já cultivava uma prática rigorosa e afetiva: anotar à mão todos os livros que lia. Ao longo de sua vida, foram 3.599 obras registradas — uma lista que, após sua morte em 1º de julho de 2025, aos 92 anos, se transformou em tributo público ao seu amor pela literatura.
A homenagem veio de sua filha, Marci Pelzer, que criou o site Dan leu para compartilhar a coleção com amigos, familiares e leitores curiosos. A relação detalha títulos que vão de clássicos como David Copperfield, de Charles Dickens, a romances contemporâneos como Tomorrow, and Tomorrow, and Tomorrow, de Gabrielle Zevin. Há também biografias, análises políticas, literatura religiosa e obras sobre saúde mental.
“Compartilhar esse material tão significativo foi uma forma bonita de homenageá-lo”, afirmou Marci ao The New York Times. O link para o site foi compartilhado via QR Code no programa do funeral.
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Uma vida moldada pelos livros
Segundo a família, Dan sempre foi um leitor dedicado, mesmo quando não gostava da leitura. Concluiu obras desafiadoras como Ulisses, de James Joyce, e a série Missão Terra, de L. Ron Hubbard. Boa parte dos livros era emprestada da Biblioteca Metropolitana de Columbus, em Ohio, especialmente da filial de Whitehall. A relação com a instituição era tão sólida que, após sua morte, a biblioteca organizou uma exposição com os livros que mais marcaram sua vida.
Lauren Hagan, diretora da biblioteca, afirmou que a lista completa será digitalizada e disponibilizada ao público como forma de preservar o legado de Pelzer. “Isso é apenas o começo do reconhecimento a um cliente tão especial”, disse ao NYT.
Superação e dedicação
Criado em uma família marcada pelo alcoolismo e por dificuldades financeiras, Pelzer foi o primeiro da casa a cursar uma faculdade. Tentou seguir a vida religiosa em um seminário jesuíta, serviu nas Forças Armadas dos EUA e trabalhou como assistente social em centros de acolhimento juvenil. Nos anos 1980, passou a ler assiduamente sobre saúde mental, adolescência, ecologia e espiritualidade.
Sua convicção ética também se refletia nas leituras. Após ler Como Evitar um Desastre Climático, de Bill Gates, Dan adotou o veganismo. A Bíblia, embora não listada, foi lida repetidas vezes e mantinha lugar especial em sua trajetória.
“Ele tinha um amor profundo por memórias, romances e discussões sobre política e religião”, recordou Marci. “As conversas sobre livros eram constantes em casa.”
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Legado inspirador
Em 2006, Dan ganhou destaque na imprensa local por registrar uma média anual de 80 livros lidos. Com a viralização de sua lista nas redes sociais após seu falecimento, milhares de pessoas passaram a consultar suas anotações em busca de inspiração.
No LinkedIn, Marci descreveu o arquivo literário como “a herança mais preciosa” da família. No obituário, convidou os amigos a honrarem Dan da maneira que ele mais valorizava: “Leia um livro que prenda sua atenção.”
O que começou como um hábito pessoal virou um gesto coletivo de celebração à leitura — um testamento silencioso de que os livros, além de moldar quem somos, também permanecem como ponte entre gerações.
