O que parecia ser apenas uma burocracia simples se transformou em um pesadelo para a governanta Fábia Almeida, da Bahia. Casada desde 2012 com Acel Menezes, ela descobriu, quase uma década depois, que sua certidão de casamento oficial estava vinculada a outro homem: o próprio cunhado.
A confusão veio à tona de forma inesperada em 2021, quando Abel Menezes, irmão de Acel, foi solicitar a segunda via da própria certidão de nascimento e se deparou com a informação de que era legalmente casado com Fábia. O choque da descoberta levou a família a investigar o erro, que teria sido provocado por uma falha no momento da digitalização ou digitação dos dados no cartório da cidade de Biritinga, onde o casamento havia sido celebrado.
“Na certidão do meu irmão, constava que ele tinha se casado com a minha esposa. E eu tenho comigo o nosso registro de casamento, todo correto”, contou Acel em entrevista ao G1.
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Com nomes semelhantes e datas de nascimento muito próximas — Abel nasceu em 16 de agosto de 1981 e Acel em 15 de agosto de 1986 —, os irmãos podem ter sido confundidos no momento da inserção dos dados no sistema. O resultado, no entanto, foi mais do que um engano: tornou-se um transtorno que afeta diretamente a vida do trio.
Abel, por exemplo, enfrenta obstáculos profissionais por conta do erro. Ele mora em Juazeiro, no norte do estado, e precisa viajar até a cidade de Serrinha para tentar resolver a pendência, que o impede de regularizar seus documentos e, por consequência, avançar na carreira. Já Fábia e Acel, que vivem no distrito de Abrantes, em Camaçari, também precisam se deslocar frequentemente para lidar com a situação.
“Fazem piada, dizem que ela é casada com dois irmãos. A gente tenta levar na esportiva, mas é algo que machuca”, desabafa Acel.
A frustração da esposa vai além do incômodo: Fábia chegou a ser orientada, em determinado momento, a considerar o divórcio para resolver o impasse nos registros. “É muito doloroso. Eu casei com amor, foi um dos dias mais felizes da minha vida. Não quero me divorciar por um erro que não foi meu”, afirmou.
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Para a defensora pública Julia Lordelo dos Reis Travessa, o caso não é isolado e pode estar relacionado à digitalização de antigos livros físicos, um processo que tem gerado problemas semelhantes em diferentes partes do país. Ela reforça, no entanto, que a correção pode ser feita judicialmente e que não há necessidade de dissolver o casamento verdadeiro.
A recomendação é buscar a Defensoria Pública do Estado da Bahia, que pode orientar a família e intermediar a retificação dos dados, inclusive à distância, sem que seja preciso retornar ao município onde o registro foi feito originalmente.
Enquanto aguardam uma solução definitiva, Fábia, Acel e Abel tentam manter a rotina em meio ao desgaste emocional e às dificuldades burocráticas, esperando que o erro seja, finalmente, corrigido.