Quase uma década após ser condenada por um dos crimes mais emblemáticos da Indonésia, Jessica Kumala Wongso voltou a provocar controvérsia ao conceder uma rara entrevista para o programa australiano 7News Spotlight. A exibição, que já ultrapassa os 2 milhões de visualizações, reacendeu discussões sobre o assassinato da jovem Wayan Mirna Salihin, ocorrido em 2016 em um café sofisticado de Jacarta.
Intitulada “Entrevista arrepiante: por que Jessica Wongso assassinou sua melhor amiga com café envenenado?”, a produção australiana traz Jessica em sua primeira grande aparição televisiva desde a condenação. Atualmente em liberdade condicional, Wongso falou por 44 minutos, mas evitou fazer declarações diretas sobre sua inocência ou culpa.
Um crime que chocou o país
O caso ganhou notoriedade internacional após imagens de câmeras de segurança mostrarem o momento em que Mirna passou mal logo após tomar o primeiro gole de um café vietnamita gelado servido por Jessica. Pouco depois, ela sofreu convulsões e morreu.
A Justiça da Indonésia considerou que a bebida havia sido envenenada com cianeto e condenou Wongso a 20 anos de prisão. O veredito foi confirmado por instâncias superiores, mas, até hoje, persiste um forte debate público sobre a solidez das provas apresentadas no julgamento.
Especialistas como o professor Simon Butt, da Universidade de Sydney, questionam a condução do caso. Em entrevista ao New York Post, Butt destacou que o julgamento teve sérias lacunas processuais: não houve autópsia oficial, as amostras do café foram mal preservadas e, segundo ele, o cianeto nunca foi de fato encontrado na cena.
Restrições e reações à entrevista
Durante a entrevista, Jessica Wongso adotou um tom cauteloso e chegou a minimizar o grau de proximidade que tinha com a vítima, contrariando a imagem de amizade íntima que dominou a narrativa do caso desde o início.
A resposta gerou incômodo no apresentador Liam Bartlett, que reagiu com perguntas incisivas. No entanto, segundo especialistas, o comportamento de Wongso pode ter sido influenciado por limitações legais. Pela legislação da Indonésia, quem cumpre liberdade condicional não pode contestar publicamente a própria culpa, sob risco de perder o benefício.
Do outro lado, defensores da condenação, como o advogado Ranto Sibarani, argumentam que o caso foi encerrado com base em um conjunto sólido de evidências circunstanciais. “Ela foi considerada culpada por três juízes, mesmo com a ausência de algumas provas materiais”, disse ele ao Post.
Entre os elementos mais comentados no processo, está uma gravação de segurança que mostra Jessica esfregando as mãos nas próprias calças minutos depois do colapso de Mirna — atitude que muitos interpretaram como tentativa de eliminar vestígios do veneno.
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Caso segue sem consenso
A entrevista reacendeu a polarização em torno do caso. Enquanto parte do público vê Jessica como vítima de um sistema judicial falho, outros continuam convencidos de sua culpa. A comoção em torno do episódio reforça o fascínio coletivo por crimes envolvendo amizade, traição e julgamentos controversos.
Jessica Wongso ainda tenta uma última alternativa legal: um pedido formal de revisão judicial, permitido na Indonésia apenas quando há apresentação de novas provas. Até o momento, porém, o recurso não avançou.