A condenação de Lucy Letby, enfermeira britânica sentenciada à prisão perpétua por sete mortes de bebês em um hospital da Inglaterra, pode ter sido um erro judicial. Um grupo de 14 especialistas neonatais analisou o caso e concluiu que não há provas suficientes para afirmar que os óbitos foram causados por ação criminosa. O parecer reacende o debate sobre a condenação da ex-profissional de saúde e pode abrir caminho para um novo julgamento.
O painel de especialistas foi liderado por Shoo Lee, referência mundial em neonatologia. Após revisar todas as evidências médicas utilizadas no julgamento de Letby, o grupo apontou que as mortes e complicações registradas no Hospital Countess of Chester, entre 2015 e 2016, podem ter sido causadas por fatores naturais ou falhas no atendimento médico.
“Não encontramos nenhum assassinato. As mortes e ferimentos registrados podem ser explicados por condições médicas ou falhas no cuidado hospitalar. Não há sustentação científica para a acusação de homicídio”, declarou Lee em comunicado à imprensa.
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A credibilidade do painel também foi destacada pelo especialista. “Se somarmos a experiência de todos os integrantes, temos cerca de 500 anos de conhecimento acumulado. Esses são os chefes de unidades médicas das mais respeitadas instituições do mundo. Eu confiaria no julgamento deles”, acrescentou.
Lucy Letby, de 35 anos, foi condenada em agosto de 2023 por sete homicídios e sete tentativas de assassinato de recém-nascidos. A promotoria argumentou que a enfermeira administrava injeções de ar na corrente sanguínea dos bebês, comprometia a ventilação mecânica e aplicava insulina de forma intencional.
Durante o julgamento, um gráfico revelou que todos os colapsos e óbitos infantis ocorreram enquanto Letby estava no hospital. Além disso, testemunhas disseram tê-la visto próxima dos bebês pouco antes dos incidentes.
A defesa, no entanto, alega que a análise foi seletiva. Seis outras mortes registradas no mesmo período não foram incluídas no gráfico, o que poderia sugerir que os eventos não estavam ligados à presença de Letby.
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Outro elemento apresentado pela promotoria foi um bilhete encontrado na casa da enfermeira, onde estava escrito: “Eu sou má, fiz isso” e “Eu os matei de propósito porque não sou boa o suficiente para cuidar deles”. No entanto, a defesa argumenta que as anotações foram escritas sob orientação de um terapeuta, como parte de um exercício para lidar com o estresse de estar sendo investigada.
A análise independente pode fortalecer o pedido da defesa para que Letby tenha direito a um novo julgamento. “Estamos falando da vida de uma jovem mulher. Se há chance de que ela seja inocente, precisamos reavaliar o caso com seriedade”, afirmou Shoo Lee.
O caso segue despertando grande repercussão no Reino Unido, e especialistas acreditam que a revisão das evidências médicas pode levar a uma nova análise do processo, reacendendo um dos julgamentos mais controversos dos últimos anos.